sexta-feira, 19 de abril de 2024

 



Comunicações mediúnicas entre vivos

 

Ernesto Bozzano

 

Parte 11

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Nas comunicações mediúnicas que manteve com indivíduos encarnados, os chamados vivos, qual o fato que mais surpreendeu William Stead? 

B. O estado de vigília, nesse tipo de fenômeno, é um empecilho à comunicação entre vivos?  

C. Qual é a outra conclusão, a respeito de como ocorre o fenômeno, fortalecida pelos fatos ocorridos com William Stead?

 

Texto para leitura

 

153. Atendendo à sugestão de Júlia, William Stead pôs sua mão ao dispor de amigos que residiam a diversas distâncias e notou que quase todos eles se achavam em condições de se comunicarem, embora variasse muito a capacidade de manifestação. Alguns escreviam logo correntemente, com as suas próprias características de estilo, de forma, de caligrafia, desde as primeiras palavras, e prosseguiam desembaraçadamente como se estivessem escrevendo uma carta normal. Confiavam-lhe seus pensamentos, informavam-no que tinham intenção de virem consultá-lo ou diziam como haviam passado o dia. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

154. Em tais conversações, já por si mesmas tão assombrosas, o que mais surpreendeu Stead foi a inconcebível franqueza de alguns amigos seus, dos quais ele conhecia a sensibilidade, a moderação e a reserva de que eram dotados. Ele estava bem certo de que nunca lhe teriam confiado certos segredos ou certas dificuldades financeiras e, entretanto, lhe declaravam, com toda a sinceridade, que se achavam em aperturas econômicas ou confessavam, sem disfarces ou reservas, outras coisas íntimas, de várias naturezas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

155. Tal circunstância lhe pareceu tão séria, do ponto de vista da convivência social, que um dia pediu explicações a Júlia, nos seguintes termos: “Os resultados que estou obtendo no meu novo campo de investigações estão me preocupando seriamente, pois me parece que não haveria mais segredos neste mundo se os outros procedessem como eu”, ao que ela respondeu: “Oh, não! Estás exagerando”, pelo que ele objetou: “Então como se explica que, por meio de minha mão, um amigo me revela segredos que pelas vias normais nunca confessaria?” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

156. Ela deu-lhe uma explicação em que nunca ele havia pensado. Disse ela: “Vossa personalidade real, ou espiritual, não confiará nunca a ninguém, por via mediúnica, coisas que considera dever conservar secretas e, se algumas vezes confia incidentes mais ou menos íntimos, faz isto em plena consciência. A diferença é que a vossa personalidade real, ou espiritual, pensa e julga, com relação ao valor intrínseco de um fato, de modo muito diferente de vossa personalidade normal”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

157. Stead perguntou-lhe: “Que queres dizer com a expressão personalidade real, ou espiritual?” Respondeu: “Vossa personalidade real, ou espiritual, o que chamais o vosso eu, inspeciona tanto a vossa mente consciente quanto a subconsciente, empregando a seu gosto uma e outra. Vossa mente consciente serve-se das faculdades sensoriais para se comunicar com os seus semelhantes quando estes se acham ao alcance das mesmas faculdades, que, portanto, são muito rudimentares em sua potencialidade. Não se dá o mesmo com as faculdades sensoriais da mente subconsciente, que são já um instrumento de comunicação muito mais sutil, refinado e eficaz, porquanto permanecem sempre como instrumento a serviço de vossa personalidade espiritual, que, quando deseja comunicar-se com alguma pessoa a distância, serve-se da mente subconsciente. Esta, porém, não se dá à tarefa absurda de revelar a outrem o que realmente deve ser mantido em segredo, tanto como não o faria, normalmente, pela conversação. Em suma, vossa personalidade real, ou espiritual, é senhora absoluta de seus instrumentos de comunicação.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

158. Stead indagou então: “Como tais comunicações são produzidas?” Ela assim respondeu: “Como? Os Espíritos do universo inteiro acham-se em contato entre si, de modo que podeis falar com a personalidade espiritual de qualquer pessoa no mundo, sem limite algum de distância, com a condição única de tê-la conhecido pessoalmente. Se podeis falar com uma pessoa que encontrardes na rua, pelo fato de lá a conhecerdes, podereis, pela mesma razão, conversar com ela em qualquer parte do mundo em que ela se achar, convidando-a a escrever pela vossa mão.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

159. Apesar dessa explicação, William Stead disse que não conseguia entrar em relações mediúnicas com todos os seus amigos e encontrava grande diferença no valor intrínseco de suas comunicações. Assim, por exemplo, há alguns que lhe davam informações pessoais tão extraordinariamente exatas que, em cem afirmativas, só encontrava uma única inexata. Há outros, ao contrário, que se manifestam com as suas características pessoais e firmam as mensagens com o seu nome e, todavia, transmitem informações completamente falsas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

160. De qualquer modo, a maioria deles demonstra a máxima exatidão ao transmitir as suas notícias. Em se tratando de notícias, nota-se um fato curioso: se ele pedia a um amigo de Glasgow notícias de sua defluxão(1) facial, respondia ele com escrupulosa exatidão, ou que está piorando, ou que os tumores estão abertos, e que seu rosto está coberto com um cataplasma, e subscreve as mensagens com a sua própria assinatura. Mas quando encontra tal amigo em carne e osso e lhe mostra a sua escrita, ele absolutamente não se recorda de ter conversado com Stead. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

161. Pediu a Júlia esclarecimentos nesse sentido, formulando nos seguintes termos a pergunta: “Como se explica que, quando pergunto ao meu amigo sobre a sua doença facial, ele responde dando informação exata a respeito do seu estado e, contudo, não se lembra de ter-se comunicado comigo? Se a nossa personalidade espiritual não transmitisse nunca informações em plena consciência de o fazer, como se explica que os amigos me fornecem informações que ignoram ter fornecido?” Respondeu-me ela: “Quando vos dirigis mediunicamente a um vosso amigo, a sua personalidade espiritual responde, empregando as faculdades mentais subconscientes e não as faculdades conscientes ou cerebrais e, naturalmente, não toma o cuidado de comunicar à mente consciente ou cerebral que deu essa informação servindo-se, para isso, das faculdades mentais subconscientes porque, absolutamente, não é necessário fazê-lo. Se achasse útil, então o amigo se recordaria.” (Light), 1893, págs. 134-143). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

162. Após as informações extraídas da interessante conferência de William Stead, Bozzano relata, no item seguinte, um incidente ocorrido com William Stead no começo das suas novas experiências. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

163. O distante paciente escolhido foi uma distinta escritora que colabora na Review of Reviews e que em pouco tempo se tornou um dos melhores “correspondentes espirituais” de Stead. Ela correspondia imediatamente aos convites espirituais deste último, em qualquer lugar em que se achasse, iniciando conversações interessantíssimas, porque exuberantes em provas de identificação pessoal:

[Como permanecesse eu um tanto incrédulo, comecei a fazer experiências pensando numa moça de Londres, que escolhi porque existiam entre mim e ela laços de simpatia recíproca, e a prova produziu maravilhosos resultados. Minha amiga não encontrava dificuldade alguma em servir-se da minha mão para dar as suas notícias, expressando-se com o seu humor do momento.

Uma vez, enquanto a minha amiga, que aqui chamarei de Srta. Summers, estava ditando uma mensagem, eu a interrompi bruscamente, perguntando-lhe: “É você mesma que está escrevendo com a minha mão, ou sou eu que estou conversando com a minha subconsciência?” Minha mão escreveu: “Provar-lhe-ei que sou eu realmente quem está escrevendo. Neste momento estou sentada diante da mesa e tenho nas mãos um objeto que amanhã levarei ao seu escritório. Será um pequeno presente que você terá de aceitar de mim. É a imagem de um velho cardo.” Interrompi: “Como é mesmo? Um velho cardo?” – “Sim, exatamente um velho cardo. Representa uma grata recordação de minha vida e é por isso mesmo que tenho muito carinho por ele. Amanhã eu o levarei à sua casa e lhe explicarei tudo melhor, de viva voz. Tenho a pretensão de pensar que o aceitará.”

No dia seguinte, minha amiga veio ao meu escritório e eu lhe perguntei logo se me havia trazido um pequeno presente. Respondeu que não, que havia pensado em trazer, mas havia acabado por deixá-lo em casa. Perguntei-lhe em que consistia e ela respondeu que se tratava de um presente tão absurdo que não desejava nomeá-lo. Eu insisti e finalmente ela explicou que se tratava de um pedaço de sabão! Fiquei profundamente decepcionado com o aparente insucesso e lho confessei. Ela, porém, replicou com surpresa: “É deveras extraordinário! Tudo sucedeu como está escrito nesta folha de papel e trata-se mesmo de um cardo, e mais, de um cardo velho, que está impresso, porém, num pedaço de papel. Amanhã o trarei. O cardo representa algo importante nas recordações de minha vida.” E então narrou o incidente pessoal relativo ao cardo. No dia seguinte levou-me o pedaço de sabão sobre o qual se distinguia, efetivamente impressa, a imagem de um velho cardo.] (Vol. IX, pág. 53, dos Proceedings of the S. P. R.) (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

164. O prof. Myers confirma o episódio nos seguintes termos: “Foi-me narrado o incidente pessoal ligado à imagem do velho cardo, cuja significação completa estava na imagem sobre o pedaço de sabão. A Srta. Summers havia pensado em levá-lo ao Sr. Stead antes que a mão deste último houvesse escrito o informe e, provavelmente, pensou o mesmo no momento preciso em que Stead escrevia”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

165. No caso exposto, o incidente da identificação pessoal destinado a provar a Stead que não se tratava de uma mistificação da subconsciência dele, e sim de uma conversa real com a personalidade espiritual da Srta. Summers, alcançou bem a sua finalidade, visto que o presente prometido a título de prova em tal sentido consistia numa coisa de natureza tão excepcional, que não pode ser explicada pela hipótese das coincidências fortuitas. É, de fato, claro, que uma imagem de “cardo velho” não é objeto que se costuma dar de presente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

166. Observa-se, além disso, que no incidente em apreço, como em outros, sucedidos com a mesma sensitiva, esta parece ter entrado em relação mediúnica com Stead durante o estado de vigília, o que não significa, porém, que o incidente se tenha desenvolvido precisamente assim, antes de tudo, porque em nenhuma das experiências em exame houve testemunhas que pudessem certificar-se de que a sensitiva não tivesse cochilado e, depois, porque, mesmo que tais testemunhas existissem, não teriam grande valor teórico, visto que uma pessoa pode muito bem passar para um estado de sonambulismo em vigília sem que os presentes o percebam. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

167. O principal ensino teórico a extrair-se do caso exposto, ou, melhor, a confirmação ulterior de um ensino teórico já extraído dos casos precedentes e que será mais do que nunca confirmado nos que seguem, consiste no fato notório e indubitável de, nas comunicações mediúnicas entre vivos, tratar-se de verdadeiras e próprias conversas entre duas personalidades espirituais subconscientes, conversas transmitidas à personalidade consciente do médium por meio da escrita automática. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

168. Pelo contrário, verifica-se não poder tratar-se de faculdades telepático-clarividentes dos médiuns, que iriam colher segredos sepultados nos recessos das subconsciências alheias, selecionando-as no meio de um montão inextrincável de recordações ali existentes em estado latente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

169. Nada mais insustentável do que esta última versão, pois que tudo concorre para sustentar que os médiuns não compreendem nada e nada escolhem, mas simplesmente conversam com a personalidade subconsciente ou espiritual dos vivos distantes, do mesmo modo que conversariam normalmente com os próprios vivos, salvo a diferença de se mostrarem as personalidades espirituais dos vivos, quando conversam mediunicamente, muito menos reticentes do que as personalidades normais dos mesmos quando conversam de viva voz. E isso pela razão de que, quando os vivos de encontram em condições transitórias de Espíritos desencarnados, não atribuem importância a certas conveniências sociais a que os Espíritos encarnados dão demasiada importância. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)  (Continua no próximo número.)

 

(1) Defluxão – o mesmo que defluxo: inflamação catarral da membrana mucosa das fossas nasais, com corrimento de humor aquoso.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Nas comunicações mediúnicas que manteve com indivíduos encarnados, os chamados vivos, qual o fato que mais surpreendeu William Stead? 

Atendendo à sugestão de Júlia, William Stead pôs sua mão ao dispor de amigos que residiam a diversas distâncias e notou que quase todos eles se achavam em condições de se comunicarem, embora variasse muito a capacidade de manifestação. Alguns escreviam logo correntemente, com as suas próprias características de estilo, de forma, de caligrafia, desde as primeiras palavras, e prosseguiam desembaraçadamente como se estivessem escrevendo uma carta normal. Mas o que mais surpreendeu Stead foi a inconcebível franqueza de alguns amigos seus, dos quais ele conhecia a sensibilidade, a moderação e a reserva de que eram dotados e, no entanto, lhe declaravam, com toda a sinceridade, que se achavam em aperturas econômicas ou confessavam, sem disfarces ou reservas, outras coisas íntimas, de várias naturezas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

B. O estado de vigília, nesse tipo de fenômeno, é um empecilho à comunicação entre vivos?  

Sim. Bozzano diz que os fatos mostram isso. Caso o comunicante esteja no estado de vigília, é provável que no momento da comunicação ele tenha cochilado ou, então, passado para um estado de sonambulismo em vigília sem que os presentes o percebessem. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

C. Qual é a outra conclusão, a respeito de como ocorre o fenômeno, fortalecida pelos fatos ocorridos com William Stead?

É a confirmação de um ensino teórico já extraído dos casos precedentes e que será mais do que nunca confirmado nos que seguem, a saber, nas comunicações mediúnicas entre vivos, estamos diante de verdadeiras e próprias conversas entre duas personalidades espirituais subconscientes, conversas transmitidas à personalidade consciente do médium por meio da escrita automática. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

 


Observação:

Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui:  https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/03/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01514962492.html

 

 


 

 


 

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quinta-feira, 18 de abril de 2024

 



CINCO-MARIAS

 

Por amor à criança

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com


Se a gente pudesse escolher a infância

que teria vivido, com enternecimento eu não

recordaria agora aquele velho tio de perna de pau,

que nunca existiu na família, e aquele arroio que

nunca passou aos fundos do quintal,

e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão,

sob o zumbido inquietante dos besouros. Mario Quintana

 

É muito triste ver criança sem tempo para brincar. Pais tomados por pensamentos sérios a respeito do futuro da criança: se vai ser médico, engenheiro, arquiteto. Claro que isso não é saudável, mas em uma sociedade (cada vez mais) dominada pelo desempenho, definida pelo medo do fracasso, facilmente os adultos ficam contra a criança.

Foi o que aconteceu com o Eduardo. O menino tem oito anos, mas é obrigado a atuar no cotidiano como se fosse gente grande. Obedece a uma agenda maluca e dificilmente tem tempo para brincar com a meninada.

Período bom para não fazer nada, sexta-feira à tarde, Eduardo está no curso de inglês e, na sequência, tem robótica na escola e, no fim do dia, treino de futebol no clube.

Nunca se sabe com clareza, mas a escola começou a dizer há uns três meses que o menino anda desatento, desinteressado dos estudos. Reuniram uma “equipe” para convencer a mãe do menino de que ele precisa de remédio. Felizmente uma tia enfermeira interferiu dizendo que isso não fazia o menor sentido, melhor mudá-lo de escola e dar-lhe bastante tempo livre para ele crescer em paz.

Particularmente, gosto muito daquela explicação do Rubem Alves exposta em um dos seus livros: “Desatenção na criança não quer dizer que ela tenha dificuldades de aprendizagem. Quer dizer que há alguma coisa errada com a escola, e que a criança ainda não se dobrou, recusando-se a ser domesticada…”

Na infância, tenho pavor dessas escolas de ensino rigoroso, de planos de preparo para o vestibular. Escolas imensas, acabam convencendo os pais e, impiedosas, cobrando caro, torturam os filhos em nome daquilo que eles poderão ser um dia. No entanto, e o bem-estar da criança?

Quanto a mim, considero que a infância, que não se repetirá nunca mais, tem compromisso com o tempo ocioso para o brincar livre, principalmente.

Maria Montessori já disse que “nenhuma descrição, nenhuma imagem de nenhum livro pode substituir a vista real das árvores em um bosque com toda a vida que acontece em volta delas”. E é ali, no bosque, na pracinha, no pátio do condomínio, no quintal de casa, que a criança precisa passar grande parte do tempo dela… imaginando, explorando, brincando… e para perceber a vida como brinquedo, sendo repetidamente estimulada a rir e a crescer feliz.

Para o filho, a família precisa encarar a infância em sua plenitude, com direitos de brincar garantidos, sem negligenciar, é óbvio, segurança, respeito e afeto. A escola, por sua vez, só tem sentido quando respeita quem brinca. Por amor à criança. Pois há tempo para tudo.

 

*

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 


 

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quarta-feira, 17 de abril de 2024

 



Revista Espírita de 1865

 

Allan Kardec

 

Parte 6

 

Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Pouco depois de desencarnar, que disse o dr. Demeure sobre sua condição no mundo espiritual?

B. Que lição nos deixou o caso do médium Hillaire?

C. Por que Deus fez da destruição recíproca dos seres vivos uma lei e, ao mesmo tempo, uma necessidade essencial à vida?

 

Texto para leitura

 

60. Comentando as mensagens transmitidas pela Sra. Foulon, Kardec chama atenção do leitor para dois pontos. O primeiro é a possibilidade, revelada por ela, de um Espírito passar da Terra a outro planeta mais elevado, desde que reúna condições espirituais para esse salto no processo reencarnatório. O segundo é a confirmação do ensinamento de que depois da morte estamos menos separados dos entes queridos do que durante a existência corpórea. (Pág. 80.)

61. Morto a 26 de janeiro de 1865, o doutor Demeure, médico homeopata muito distinto em Albi, comunicou-se na Sociedade Espírita de Paris no dia 30 seguinte. Disse o amigo a Kardec: “Como sou feliz! Não sou mais velho nem enfermo; meu corpo era apenas um disfarce imposto; sou jovem e belo, belo dessa eterna juventude dos Espíritos cujas rugas não mais sulcam o rosto, cujos cabelos não embranquecem sob a ação do tempo”. (Págs. 80 e 81.)

62. Nos dois dias seguintes o dr. Demeure comunicou-se novamente e revelou que já se encontrava a postos na ajuda aos enfermos. Kardec faz a seguinte observação: “A poucos dias de distância, ele cuidava dos doentes como médico e, apenas desencarnado, apressa-se em ir cuidar deles como Espírito. Que se ganha em estar no outro mundo, perguntarão certas pessoas, se ali não se goza de repouso?” Em resposta, o Codificador explica que a atividade espiritual não é um constrangimento, mas uma necessidade, uma satisfação para os Espíritos, que procuram as ocupações que tenham ligação com suas aptidões e possam ajudar o seu adiantamento. (Págs. 82 e 83.)

63. A Revista reporta-se ao processo que envolveu o médium Hillaire, de Sonnac (Charente-Inférieure), o qual permitiu que a vaidade e o orgulho lhe subissem à cabeça e acabou se perdendo. Levado o caso ao Tribunal, este condenou Hillaire a um ano de prisão e multas, embora as testemunhas, em número de 20, tivessem atestado a veracidade dos fenômenos atribuídos ao médium. Comentando o desfecho do lamentável caso, Kardec diz que o Espiritismo não saiu apenas são e salvo daquela prova, mas também “com as honras da guerra”. (Págs. 84 a 88.)

64. Em verdade, o julgamento não proclamou a veracidade das manifestações de Hillaire, mas não as considerou fraudulentas. O médium foi condenado por outro motivo. Quanto à doutrina, ali obteve um sufrágio brilhante, visto que – adverte Kardec – o Espiritismo está menos nos fenômenos materiais do que em suas consequências morais. (Pág. 88.)

65. Em mensagem dirigida especialmente aos espíritas devotados no caso Hillaire, Kardec reitera que a parte essencial do Espiritismo não são os fenômenos, mas a aplicação de seus princípios morais. É nisto que se reconhecem os Espíritas sinceros. Há espíritas que, infelizmente, não levam esse pensamento a sério e essa é a razão por que nem todos os adeptos do Espiritismo são perfeitos. Hillaire pertencia a essa classe, por isso faliu. A Providência o havia dotado de notável faculdade, com cujo auxílio fez muito bem, mas poderia fazer ainda muito mais se não tivesse, por sua fraqueza, rompido a missão. (Págs. 89 a 91.)

66. Concluindo a mensagem, Kardec adverte: “Não podemos condená-lo, nem absolvê-lo; só a Deus pertence julgá-lo por não haver cumprido a tarefa até o fim”. “Irmãos, estendamo-lhe a mão de socorro e oremos por ele.” (Pág. 91.)

67. Na seção de livros, a Revista noticia o lançamento do livro Um Anjo do Céu na Terra, escrito por Benjamin Mossé, rabino em Avignon, no qual a caridade é ensinada pelos mais tocantes fatos. (Págs. 91 a 94.)

68. O número de abril focaliza logo na abertura o tema destruição recíproca dos seres vivos, uma lei natural que não parece, à primeira vista, conciliar-se com a bondade de Deus. O que se pergunta é: Por que o Criador lhes teria feito uma necessidade se entredestruírem para se alimentarem uns à custa dos outros? (Pág. 95.)

69. Ora, responde Kardec, a verdadeira vida, tanto do animal, quanto do homem, não está no envoltório corporal; está no princípio inteligente que sobrevive ao corpo. Esse princípio inteligente – a alma – necessita do corpo para se desenvolver pelo trabalho que deve realizar sobre a matéria bruta. O corpo se gasta nesse trabalho, mas a alma, não; ao contrário, dele sai mais forte, mais lúcida e mais capaz. (Pág. 95.)

70. Pelo espetáculo incessante da destruição, Deus ensina aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e suscita neles a ideia da vida espiritual, fazendo-os desejá-la como uma compensação. (Pág. 95.)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Pouco depois de desencarnar, que disse o dr. Demeure sobre sua condição no mundo espiritual?

Morto a 26 de janeiro de 1865, o doutor Demeure comunicou-se na Sociedade Espírita de Paris no dia 30 seguinte, quando disse o seguinte: “Como sou feliz! Não sou mais velho nem enfermo; meu corpo era apenas um disfarce imposto; sou jovem e belo, belo dessa eterna juventude dos Espíritos cujas rugas não mais sulcam o rosto, cujos cabelos não embranquecem sob a ação do tempo”. Nos dois dias seguintes ele comunicou-se novamente e revelou que já se encontrava a postos na ajuda aos enfermos. (Revista Espírita de 1865, pp. 80 a 83.)

B. Que lição nos deixou o caso do médium Hillaire?

Reportando-se ao caso do médium Hillaire, que se perdera devido à vaidade e ao orgulho, Kardec disse que a parte essencial do Espiritismo não são os fenômenos, mas a aplicação de seus princípios morais. É nisto que se reconhecem os Espíritas sinceros. Há espíritas que, infelizmente, não levam esse pensamento a sério e essa é a razão por que nem todos os adeptos do Espiritismo são perfeitos. Hillaire pertencia a essa classe, por isso faliu. A Providência o havia dotado de notável faculdade, com cujo auxílio fez muito bem, mas poderia fazer ainda muito mais se não tivesse, por sua fraqueza, rompido a missão. (Obra citada, pp. 89 a 91.) 

C. Por que Deus fez da destruição recíproca dos seres vivos uma lei e, ao mesmo tempo, uma necessidade essencial à vida?

Tratando do assunto, Kardec lembra que a verdadeira vida, tanto do animal, quanto do homem, não está no envoltório corporal; está no princípio inteligente que sobrevive ao corpo. Esse princípio inteligente – a alma – necessita do corpo para se desenvolver pelo trabalho que deve realizar sobre a matéria bruta. O corpo se gasta nesse trabalho, mas a alma, não; ao contrário, dele sai mais forte, mais lúcida e mais capaz. E aduziu que, pelo espetáculo incessante da destruição, Deus ensina aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e suscita neles a ideia da vida espiritual, fazendo-os desejá-la como uma compensação. (Obra citada, pág. 95.)

 

Observação:

Para acessar a Parte 5 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/03/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_0477456577.html



 

 

 

 

 

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terça-feira, 16 de abril de 2024

 



A conexão com a espiritualidade

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Não há transcendência se não alcançarmos a espiritualidade, pois esta nos convida ao autoconhecimento e, assim, ao despertamento para o Universo, a magnanimidade, a criação divina, o todo e o além. A espiritualidade consola, fortalece, esclarece, restaura e põe tudo em coerência absoluta; também nos orienta para o caminho, porque é capaz de explicar-nos de onde viemos, como estamos e para onde seguiremos. Como se não bastasse, ela nos conecta à verdadeira vida, criada por Deus, e nos coloca em contato com os que encontramos um dia, os nossos amores e os seres que ainda necessitamos aprender a amar, com os amigos que tanto nos auxiliam.

A espiritualidade nos preenche sem mais a necessidade efêmera da busca material que, em poucos minutos, às vezes, tal importância se dissipa; o espírito possui características duradouras; a matéria, efemeridade. Ainda nos ensina que o passado, as outras vivências não devem ser clausuras sombrias, mas educandário para o nosso espírito, e que os sofrimentos passados devem ser deixados no seu tempo e não mais acorrentados a nós. Também nos ensina que o presente é para ser vivido com amor e agradecimento e compartilhado com o amparo ao próximo.

Quanto mais reconhecermos a oportunidade, mais harmoniosos tornamo-nos com a vida. Quanto mais nos percebermos eternos, mais completa vivência começamos a desfrutar. Não é a compreensão aparente, mas, sim, a assimilação espiritual. Quando despertamos para o conhecimento extrafísico e entendemos que tudo é Universo ‒ diversidade infinita dos seres ‒ e pulsamos sob único Criador, então, tudo se expande e a transcendência começa a brilhar. A espiritualidade nos convida à luz; depende da nossa escolha querer segui-la ou tardiamente encontrá-la e continuar com a vida sem o propósito real.

Todos possuímos um fio de luz conectando-nos ao Universo; em certos tempos, esse fio está mais discreto por causa da nossa insistente escolha pela materialidade, e quando suspiramos de maneira mais espiritualizada o mesmo fio passa a iluminar-se tão amorosamente.

Até que não nos tomamos por completo, devemos nos convencer de forma determinada que somos espíritos num momento humano e físico, apenas isso. Somos eternamente espíritos, essa afirmação deve ser constante e viva.

E, assim, com essa determinação, todas as vezes que também olharmos para o céu, ora com as estrelas ora com o brilho do sol, reforçaremos que somos eternos e a eternidade é o nosso lar.

Sem a espiritualidade, nenhum sentido habitará os nossos dias; com a sua presença, tudo fará sentido pleno e transcenderá, pois mergulharemos em nós e partiremos para o Universo. Reconheceremos a nossa luz conectada às luzes da espiritualidade e nos sentiremos realmente parte do todo, e não mais um ser solitário, perdido e inseguro buscando o sentido da vida.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 

 

 

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