domingo, 2 de setembro de 2012

O jogo do contente e os espíritas


Por iniciativa de Monteiro Lobato, que a traduziu, chegou até nós, muitas décadas atrás, a comovente história de Pollyanna, a jovem que procurava manter-se sempre contente desde o momento em que seu humilde pai, devotado pregador do Evangelho, lhe disse haver encontrado na Bíblia 800 versículos que nos recomendam alegria, contentamento, bom ânimo, textos esses presentes não somente no Novo, mas também no Antigo Testamento.
Depois da descoberta, ele disse à filha que se Deus teve – por intermédio de emissários diversos – o trabalho de nos recomendar a alegria por oitocentas vezes, é porque desejava que fôssemos sempre alegres. E inventou, em decorrência disso, o “jogo do contente”, que consiste em encontrar em tudo, em todas as coisas que nos acontecem, um pretexto para permanecermos alegres e contentes.
A história de Pollyanna veio-nos à mente em face de uma carta que recebemos certa vez de um leitor, que se disse muito triste pelos rumos que o movimento espírita no Brasil tem tomado, no qual parece que às vezes damos mais importância à letra do que ao espírito, como modernos fariseus reencarnados.
“Amai-vos”, eis o primeiro ensinamento!
Esta frase é bem conhecida de todos nós – dirigentes, palestrantes, escritores, médiuns, jornalistas, coordenadores de grupos ou meros participantes das Casas Espíritas.
“Instruí-vos”, eis o segundo.
A lição ora lembrada aparece na parte final de um texto que merece igualmente ser recordado: 
“Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades. Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade." (O Espírito de Verdade, Paris, 1860, cap. VI, item 5, d´O Evangelho segundo o Espiritismo.)
É claro que tem havido fatos no movimento espírita que realmente nos entristecem, mas nenhum deles pode ser pretexto para que ignoremos a necessidade de que o sentimento do amor, amor verdadeiro, amor sem mácula, amor desinteressado, seja o ingrediente principal de tudo o que realizamos na vida.
Agindo assim será possível – com toda a certeza – adotarmos o exemplo da jovem Pollyanna e procurarmos destacar nas realizações e atividades de que participamos o aspecto positivo, o lado nobre, as coisas boas que nos proporcionem a alegria e o contentamento prescritos por 800 vezes nas Escrituras, restituindo, desse modo, ao movimento espírita a alegria que, às vezes, lhe tem faltado.


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