sábado, 25 de maio de 2013

Pérolas literárias (37)


Do Além

Antônio Nobre


Pudesse o nosso olhar, vagueando os ermos,
Ver através da própria soledade
A expressão luminosa da Verdade,
E da luz da Verdade não descrermos...

Preocupar-se aí, porém, quem há de
Com o problema de sermos ou não sermos,
Pois que o ardente desejo de o sabermos
É sempre o anelo falso da vaidade?

Peregrinos da dor, na dor andamos
Sem que a nossa miséria se desfaça
No escabroso caminho onde marchamos,

Seguindo a alma nos sonhos iludida,
Até que a dor unindo-se à desgraça
Descerre os véus que encobrem outra vida.


Antônio Nobre nasceu na cidade do Porto e faleceu na Foz do Douro, aos 33 anos de idade, em 18 de março de 1900. Distinguiu-se pela suavidade e melancolia do seu estro. O soneto acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.


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