sábado, 16 de novembro de 2013

Namoro moderno


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Havia sessenta anos que eu estivera no Campo São João Batista, no Rio de Janeiro, para ali beijar minha meiga Carola e abraçar os amigos e parentes queridos. Mas se também fosses ao local, amigo leitor, só encontrarias farelos de ossos, pois, no local, apenas trocáramos a veste física pela do espírito, bem mais formosa e higiênica...
A quilômetros dali, do seu lar, pouco abaixo da bucólica igreja da Penha, um adolescente, dia a dia, ouvia tocar, no rádio, um cantor excepcional. Naquela ocasião, já havia TV em preto e branco, mas esse era um luxo desfrutado por poucas pessoas. Estávamos, portanto, em 1968, e Joteli completara dezesseis verões (homem não faz primavera, e, sim, verão; pois é do verão que surge o varão).
Aquele, porém, seria um dia especial, pois o grande comunicador Sílvio Santos apresentaria, na TV Record, um programa sobre o artista citado. E Joteli descera o morro para assisti-lo, da janela da casa de rua abaixo.
Com a complacência da família burguesa, o filho de proletários viu e ouviu, na TV, o então jovem e já excelente apresentador, por longo tempo, defender o cantor das acusações levianas a este atribuídas. Entre outras coisas, dizia Sílvio que aquele rapaz, presente e calado, estava sendo injustamente acusado de ser perversor da juventude, pois usava colares, roupas coloridas e era cabeludo.
E ainda mais: acusavam-no de, por suas atitudes antissociais e afeminadas, ser mau exemplo para a família e nefasta liderança para a juventude... Mas, segundo o expositor, isso não era verdade.
O acusado não passava de um jovem sem jeito para ser líder; triste no olhar, com seu modo tímido e simples, apenas queria cantar suaves músicas românticas e estar na moda. Não estava ali, portanto, para reivindicar nada; desejava apenas cantar e cativar a todos, com sua bela voz. 
Além disso, sonhava casar-se e constituir uma família exemplar.
Diziam que plagiava João Gilberto — continuou —, mas quem não imitava o João ou qualquer outro grande cantor? O próprio Paulo Sérgio, que começara a cantar com voz semelhante à do acusado, já assumira um estilo próprio, como ocorrera com o inocente moço.
O apresentador se retira, ao final de sua eloquente defesa, ante um cabisbaixo e mudo cabeludo, apoiado por todos os presentes — jurados e plateia —, que o inocentaram unanimemente.
No dia seguinte, a imprensa repercutiria favoravelmente o programa. Pouco tempo depois, o título de rei da música popular brasileira foi dado, definitivamente, a Roberto Carlos.
É isso mesmo, caro leitor, no Brasil já houve tempo em que usar cabelo comprido era considerado coisa de efeminado. Essa moda, porém, viera da Inglaterra, com os Beatles e hippies. Roberto apenas usava uma estratégia de marketing para ganhar popularidade.
O tempo e os hippies passaram. Outras modas surgiram, como a do brinco numa das orelhas do jovem, depois nas duas, a tatuagem e outras atitudes como a do ficar.
Na minha época, quando um homem olhava para outro, insistentemente, na rua, era briga certa. Casal namorando em praça pública, nem pensar. Atualmente, tornou-se comum ver, beijando-se na boca, em qualquer lugar, dois jovens... do mesmo sexo.
No meu tempo, era excitante ler, nos romances, alusões a certas partes do corpo feminino, como “uns braços”. Hoje, belas moças desfilam de minissaia sem que alguns rapazes lhes deem a mínima...
A jovem de antigamente corava de vergonha ao lhe ser pedido um beijo. Casamento, só com o consentimento paterno. Com o advento da TV, as novelas atingiam seu clímax quando o casal (homem e mulher), finalmente, se beijava.
Atualmente, enquanto o drama se desenrola em relação à paternidade de uma criança, por exemplo, os personagens principais e secundários já foram para a cama inúmeras vezes. E, após o relacionamento sexual, é comum iniciar-se um bate-boca com xingamentos e até mesmo agressões.
Acabou o romantismo. Já não se sabe quem vai se dar bem, no fim da história, se é o vilão ou o “bom moço”, a megera ou a mocinha que a persegue com seu ódio implacável e desejo de vingança.
Por enquanto, ainda não há novela em que, no final, o “casal” viva feliz para sempre: ela com ela, ele com ele. Por enquanto...
Num programa televisivo sobre sexo, ontem, a proposta era de um casal ir chupando, cada um, a ponta de um macarrão, até que, ao final, suas bocas se encontrassem, num ardente beijo. De repente, sob olhares curiosos da apresentadora, convidados e plateia, apresentaram-se para a chupeta dois jovens... do sexo masculino.
Virei de costas e retirei-me.
Estou agora com o firme propósito de continuar a escrever romances destinados, exclusivamente, à vida no plano espiritual.
Pelo menos aqui, cada um assume o que é... Mas no corpo certo...

          
Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/


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