sábado, 18 de janeiro de 2014

Pérolas literárias (71)


Desilusão  

Antero de Quental


Quem sou eu? Quem sou eu? No abismo escuro
Do meu atribulado pensamento
Sinto ainda as áscuas(1) do pavor violento
Em que andei como nau sem palinuro!(2)

E... ouço uma voz: “Tu és verme obscuro
Vitimado no grande desalento,
Que procurou a mágoa e o sofrimento
Sem caridade, o amor sagrado e puro”.

Ó promessas do “nada” inexistente!...
A morte abriu-me as portas do presente
Amargo e interminável pela dor;

Infeliz do meu ser fraco e abatido,
Pois o anseio de nada, paz e olvido
Foi apenas um sonho enganador!


(1) Áscua – brasa; chispa que se desprende do ferro em brasa ao ser malhado.
(2) Palinuro – piloto, guia.


Do livro Lira Imortal, obra ditada por Espíritos Diversos, psicografada pelo médium Francisco Candido Xavier.



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