sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pérolas literárias (73)


Ao mundo 

Antônio Nobre


A Terra é o vasto abismo onde a alma chora,
O vale de amarguras do Salmista,
Lodoso chavascal(1) onde se avista
A podridão dos vermes que apavora.

Mas, para os grandes bens, para que exista
A perfeição da luz deslumbradora,
Precisamos da carne que aprimora
Com o camartelo(2) mágico do artista.

Terra, tranquilamente eu te abençoo...
Porque da tua dor alcei meu voo
Para a mansão das luzes opulentas;

Teu rigor nos redime e nos eleva;
Mas és ainda o cárcere da treva,
Triste mundo de chagas pustulentas!


(1) Chavascal: lugar imundo; chiqueiro; terra estéril; mata de espinheiros e outras plantas silvestres; chavasqueiro.
(2) Camartelo: martelo de canteiro ou de pedreiro, agudo ou com gume de um lado e redondo ou quadrado do outro, e que se emprega para desbastar pedras, quebrar e assentar tijolos etc.; fig.  Tudo aquilo que serve para demolir. 

 
Antônio Nobre nasceu na cidade do Porto (Portugal) e faleceu na Foz do Douro aos 33 anos de idade, em 18 de março de 1900. O soneto acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


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