quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O usurário é, no fundo, um doente



Continuamos ontem à noite no Centro Espírita Nosso Lar o estudo do livro Ação e Reação, de André Luiz, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.
Eis o texto que serviu de base ao estudo realizado:

Questões para debate

A. Que avaliação fez Silas a respeito dos irmãos Leonel e Clarindo?
B. Podemos dizer que a vítima de usura, isto é, o usurário, é um doente?
C. Jesus ensinou-nos que devemos amar os nossos inimigos. Como Silas entendia essas palavras?

Texto para leitura

51. Mecanismo de emissão e recepção de imagens – Silas elucidou o fenômeno que Leonel acabara de demonstrar: "Estamos diante de um processo de transmissão de imagens, até certo ponto análogo aos princípios dominantes na televisão, no reino da eletrônica, atualmente em voga no plano terrestre. Sabemos que cada um de nós é um fulcro gerador de vida, com qualidades específicas de emissão e recepção. O campo mental do hipnotizador, que cria no mundo da própria imaginação as formas-pensamentos que deseja exteriorizar, é algo semelhante à câmara de imagem do transmissor comum, tanto quanto esse dispositivo é idêntico, em seus valores, à câmara escura da máquina fotográfica. Plasmando a imagem da qual se propõe extrair o melhor efeito, arroja-a sobre o campo mental do hipnotizado que, então, procede à guisa do mosaico em televisão ou à maneira da película sensível do serviço fotográfico". Silas lembrou o mecanismo geral do processo. Na transmissão de imagens a distância, o mosaico, recolhendo os quadros que a câmara explora, age como um espelho sensibilizado e converte os traços luminosos em impulsos elétricos que são recepcionados pelas antenas do aparelho receptor e, neste, transformados novamente em sons e imagens. "No problema em estudo, você, Leonel – informou o Assistente – , criou os quadros que se propôs transmitir ao pensamento de Luís, e, usando as forças positivas da vontade, coloriu-os com os seus recursos de concentração na sua própria mente, que funcionou como câmara de imagem. Aproveitando a energia mental, muito mais poderosa que a força eletrônica, projetou-os, como legítimo hipnotizador, sobre o campo mental de Luís, que funcionou qual mosaico, transformando as impressões recebidas em impulsos magnéticos, a reconstituírem as formas-pensamentos plasmadas por você nos centros cerebrais, por intermédio dos nervos que desempenham o papel de antenas específicas, a lhes fixarem as particularidades na esfera dos sentidos, num perfeito jogo alucinatório, em que o som e a imagem se entrosam harmoniosamente, como acontece na televisão, em que a imagem e o som se associam com o apoio eficiente de aparelhos conjugados, apresentando no receptor uma sequência de quadros que poderíamos considerar como sendo `miragens técnicas'." De retorno à Mansão, com Alzira e Hilário, Silas – que impressionou vivamente os dois irmãos vingadores –  afirmou a André que, pela conversa de Leonel, percebera que lidavam com duas vigorosas inteligências, cuja modificação inicial deveria ser feita com amor, para realizar-se com segurança. (Ação e Reação, capítulo 8, pp. 112 a 114.)

52. Um doente necessitado de compaixão – Na noite seguinte, Silas, André e Hilário voltaram à residência de Luís. Eram 21 horas e a família fazia ligeira refeição em larga copa da fazenda. Enquanto Adélia acariciava as crianças, já tontas de sono, o marido comentava com os presentes o noticiário radiofônico, salientando as dificuldades públicas, criticando os políticos e os administradores e referindo-se às pragas do café e da mandioca. Por fim, não contente em enunciar as calamidades da Terra, falou, inconsequente, quanto à suposta ira do Céu, afirmando crer que o fim do mundo estava próximo e clamando contra o egoísmo dos ricos, que agravava o infortúnio dos pobres. Leonel, que assistia, junto aos demais, à cena, dirigiu-se a Silas, observando: "Estão vendo? Este homem é o derrotismo em pessoa. Enxerga tudo em termos de cinza e lama, ajuíza com firmeza sobre os desastres sociais e conhece as zonas mais tristes da indigência coletiva; entretanto, não sabe desfazer-se de um só centavo dos milhões que retém, a favor dos que sofrem nudez e fome..." O Assistente ponderou: "Leonel, todas as suas observações apresentam lógica e verdade, à primeira vista. Superficialmente, Luís é um exemplar consumado de pessimismo e de usura(1). Todavia, no fundo, ele é um doente necessitado de compaixão. Há moléstias da alma que arruínam a mente por tempo indeterminado. Quem seria ele, amparado por influências outras? Espiritualmente abafado entre as visões da fortuna terrestre com que lhe assediamos o pensamento, o infeliz perdeu o contacto com os livros nobres e com as nobres companhias. Tem a socorrê-lo apenas a religião domingueira dos crentes que se julgam exonerados de qualquer obrigação para com a fé, contanto que participem do ofício de adoração a Deus, no fim de cada semana. Quem poderia prever-lhe as mudanças benéficas, desde que pudesse receber outro tipo de assistência?"  (Obra citada, capítulo 9, pp. 115 e 116.)

53. O caso Silas – Clarindo e Leonel ficaram revoltados com as palavras de Silas. Para eles, Luís e seu pai eram apenas devedores... "Roubaram-nos, assassinaram-nos...", exclamou Leonel, e por isso – completou Clarindo – haveriam de pagar! Silas sorriu e obtemperou: "Sim, pagar é o verbo próprio... Contudo, como pode o devedor resgatar-se, quando o credor lhe subtrai todas as possibilidades de solver os débitos? Que a nós mesmos cabe sanar os males de que somos autores, não padece qualquer dúvida... Entretanto, se nos compete retificar hoje uma estrada que ontem desorganizamos, como proceder se nos decepam agora as mãos? O próprio Cristo aconselhou: – Ajudai aos vossos inimigos". (N.R.: Silas alterou as palavras ditas por Jesus, constantes dos versículos 27 e 28 do cap. 6 de Lucas, porque o vocábulo amar, usado pelo Mestre, não seria, evidentemente, aceito pelos irmãos vingadores.) O Assistente prosseguiu: "Muitas vezes, penso que semelhante afirmativa, corretamente interpretada, quer assim dizer: – Ajudai aos vossos inimigos para que possam pagar as dívidas em que se emaranharam, restaurando o equilíbrio da vida, no qual tanto eles quanto vós sereis beneficiados pela paz". Leonel ficou desconfiado com essa postura de Silas. Seria ele um padre disfarçado? "Engana-se, meu amigo – informou o Assistente –; se algo procuro, em nossa comunhão fraterna, é a minha própria renovação. Pela sedução do dinheiro, também caí na última passagem pela Terra. A paixão da posse governava-me todos os ideais... A fascinação pelo ouro tomou-me o ser de tal modo que, apesar de ter recebido o título de médico, numa universidade venerável, fugi ao exercício da profissão para vigiar os movimentos de meu velho pai, a fim de que nem ele mesmo viesse a dispor, com largueza, dos bens de nossa casa". Silas continuou: "O apego às nossas propriedades e aos nossos haveres transformou-me num réprobo do paraíso familiar, convertendo-me, ainda, num verdugo intratável, naturalmente odiado por todos os que viviam em subalternidade no vasto círculo de minha temporária dominação... Para amontoar moedas e multiplicar lucros fáceis, comecei pela crueldade e acabei nas malhas do crime... Abominei a amizade, desprezei os fracos e os pobres e, no temor de perder a fortuna cuja posse total ambicionava, não hesitei adotar a delinquência como sócia infernal de meu terrível caminho..." (Obra citada, capítulo 9, pp. 117 e 118.)

(1) Usura significa, entre outras coisas, mesquinhez, avareza, ambição. Usurário é quem pratica a usura, o mesmo que avaro ou avarento: indivíduo sórdido e excessivamente apegado ao dinheiro.  

Respostas às questões propostas

A. Que avaliação fez Silas a respeito dos irmãos Leonel e Clarindo?
Silas disse a André que, pela conversa de Leonel, percebera que lidavam com duas vigorosas inteligências, cuja modificação inicial deveria ser feita com amor, para realizar-se com segurança. (Ação e Reação, cap. 8, pp. 112 a 114.)

B. Podemos dizer que a vítima de usura, isto é, o usurário, é um doente?
Sim. E esse era o caso de Luís, o fazendeiro. Pessimista e usurário, era ele, em verdade, um doente necessitado de compaixão. Segundo o Assistente Silas, existem moléstias da alma que arruínam a mente por tempo indeterminado. Quem seria aquele homem, se amparado por influências outras? Reportando-se ao caso, Silas explicou: “Espiritualmente abafado entre as visões da fortuna terrestre com que lhe assediamos o pensamento, o infeliz perdeu o contacto com os livros nobres e com as nobres companhias. Tem a socorrê-lo apenas a religião domingueira dos crentes que se julgam exonerados de qualquer obrigação para com a fé, contanto que participem do ofício de adoração a Deus, no fim de cada semana. Quem poderia prever-lhe as mudanças benéficas, desde que pudesse receber outro tipo de assistência?" (Obra citada, cap. 9, pp. 115 e 116.)

C. Jesus ensinou-nos que devemos amar os nossos inimigos. Como Silas entendia essas palavras?
Reportando-se ao assunto, ele disse: "Muitas vezes, penso que semelhante afirmativa, corretamente interpretada, quer assim dizer: – Ajudai aos vossos inimigos para que possam pagar as dívidas em que se emaranharam, restaurando o equilíbrio da vida, no qual tanto eles quanto vós sereis beneficiados pela paz". De fato, entendia ele, como pode o devedor resgatar-se, quando o credor lhe subtrai todas as possibilidades de solver os débitos? Que a nós mesmos cabe sanar os males de que somos autores, não padece qualquer dúvida; mas, se nos compete retificar hoje uma estrada que ontem desorganizamos, como proceder se nos decepam as mãos? (Obra citada, cap. 9, pp. 117 e 118.)




Nenhum comentário:

Postar um comentário