sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pílulas gramaticais (127)



Qual é o certo: raios X, raio X ou raio-X?
Veja o que, a respeito do assunto, lemos no blog Assim mesmo (http://letratura.blogspot.com.br/2010/05/raios-xraios-x.html):

«Minúsculos germes portadores de vida, pairando em nuvens pelas galáxias, tinham sido tocados por raios especiais de um Sol moribundo e tinham-se transformado num monstro colossal que se alimentava de raios X e que aterrorizava as carreiras de tráfego regular entre a Terra e Marte» (O Jardim de Cimento, Ian McEwan. Tradução de Cristina Ferreira de Almeida e revisão de Eda Lyra. Lisboa: Gradiva, 4.ª ed., 2005, p. 34).
Não é raro ver grafado com hífen: raios-X. Mas reparem na distinção que faz Sacconi, autor do novíssimo dicionário já aqui referido: «Existe um inconveniente nesse título [«Visão de raio X»] dado pela ISTOÉ a uma carta de um de seus leitores. É preciso estabelecer a diferença entre raio-X e raios X. Raio-X (obrigatoriamente com hífen) é a fotografia ou o exame feito por meio de raios X. Quem já não precisou tirar um raio-X dos pulmões? Já raios X (sem hífen) é o nome que se dá à radiação eletromagnética não luminosa, capaz de atravessar quase todos os sólidos e radiografá-los internamente. Sendo assim, o título acima deveria ser este, se observada a diferença: Visão de raios X.» Os nossos dicionários não acolhem esta distinção, apenas registam raios X.

Temos, então, como corretas as expressões: raios X e raio-X. Não existe a forma raio X.
A dúvida está em que situações devemos usar uma e outra.
Independentemente de ter sido proposta no dicionário do Sacconi, mencionado no blog Assim mesmo, é importante lembrar que existe uma regra clara para isso, e nada mudou com o novo Acordo Ortográfico que entrou em vigor no mês de janeiro de 2009.
A regra diz que na formação de palavras compostas por justaposição (criado-mudo, ferro-velho etc.) usa-se hífen quando as palavras usadas nessa formação "perdem" o significado original e dão, com a justaposição, origem a uma "palavra" com sentido diferente do significado das partes que a compõem.
Tratamos desse assunto na seção "Questões vernáculas" da edição 307 da revista “O Consolador”, como o leitor pode conferir em http://www.oconsolador.com.br/ano7/307/questoesvernaculas.html
    O caso de raio-X é idêntico ao de criado-mudo.
Em criado-mudo não estamos diante de um indivíduo mudo, alguém que não consegue falar, nem de um serviçal, um criado, ou seja, as palavras "criado" e "mudo" perderam o sentido original. Agora, justapostas, indicam um móvel usado geralmente em um quarto da casa: o popular e tradicional “criado-mudo”.
Em raio-X não estamos diante de um raio nem de um X, ou seja, as palavras "raio" e "X" perderam aí o sentido original. Justapostas, indicam uma fotografia de imagem obtida com fundamento nos raios X, cuja descoberta devemos ao físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen.
Diremos então:
- Fui à Ultra Rad fazer um exame de raios X.
- Meu médico viu o raio-X e ficou preocupado.



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