quinta-feira, 23 de julho de 2015

Pérolas literárias (108)



Cigarra morta

Cármen Cinira


Chamam-me agora aí
Cigarra morta,
E não podia haver melhor definição,
Porque caí estonteada à porta
Do castelo em ruínas,
Do desencanto e da desilusão!...

Minhas futilidades pequeninas...
Meus grandes desenganos...
Eu mesma inda não sei
Se é ventura morrer na flor dos anos... 
Sei apenas que choro
O tempo que perdi,
Cantando em demasia a carne inutilmente;
E vivo aqui, somente,
De quanto idealizei
De belo, de perfeito, grande e santo,
Que inda hei de realizar
Com a rima do meu verso e a gota do meu pranto.

Dá-me força, Senhor,
Para concretizar meu anseio de amor:
Evita-me a saudade
Da minha improdutiva mocidade!
Eu não quero sentir,
Como cigarra que era,
A falta das canículas doiradas
Sob a luz de ridente primavera. 
Já que tombei cansada de cantar,
Calando amargamente,
Perdoa, Deus de Amor, o meu pecado:
Que eu olvide a cigarra do passado,
Para ser uma abelha previdente.



Cármen Cinira, nome literário de Cinira do Carmo Bordini Cardoso, nasceu no Rio de Janeiro em 1902, e faleceu em 30 de agosto de 1933. Sua espontaneidade poética era tão grande que ela própria acreditava serem os seus versos de origem mediúnica. O poema acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Chico Xavier.


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