sábado, 22 de agosto de 2015

Rindo e aprendendo com nossos erros de português II



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Estava-se no Tribunal, quando execrável juiz lavrou sua iníqua sentença de condenação a alguns políticos, grandes baluartes da democracia brasileira atual, por pequenos deslizes praticados por esses insignes representantes do nosso povo. Começava ali a descoberta de que, todo ano, 50 bilhões de reais são desviados dos cofres públicos brasileiros, o que daria para resolver a educação de nossas crianças e jovens com melhores escolas, melhor formação e salário de seus professores, cuja classe, em países sérios, é tratada com dignidade e respeito.
Um dos jurados presentes louvou o perverso magistrado com as seguintes palavras:
— “Bema-venturados” são os sábios como Vossa Excelência...
Ao que o árbitro das trevas respondeu com humildade:
— Depois dessa, sei que nada sei...
E nós refletimos, amigo leitor:
 — Se assim é, “bema-mados” pelo fisco são os nossos contribuintes.
Sim, amiga leitora, não se pronuncia a palavra composta bem-aventurados senão como “bem” e “aventurados”, distintamente; assim também “bem” e “amados” é a pronúncia de bem-amados.
“Bem mamado” é o bebê que mamou bem no peito da mamãe. “Bema-venturado” não sei o que é.
Ignoro de onde algumas pessoas cultas, sem o mínimo de reflexão, embarcaram nessa pronúncia, mas isso virou uma praga, de uns tempos para cá, como outras elocuções populares, tais como “há anos atrás”, “elo de ligação”, encarar de frente”, “adentrar para dentro”, “sair para fora”, etc. Isso é chamado, nas figuras de linguagem, de pleonasmo, que pode ser vicioso ou não...
Certos pleonasmos servem para enfatizar a elocução. Um exemplo é a expressão de Jesus: — Lázaro, sai para fora. Sair só pode ser para fora, mas o Cristo quis enfatizar a saída do amigo. Creio mesmo que ele teria dito, como rezam as melhores traduções: “— Lázaro, vem para fora” (João, 11:43).
Outro exemplo é a famosa frase inscrita no Oráculo de Delfos, na Grécia, e repetida por Sócrates: — Homem, conhece-te a ti mesmo. Pura ênfase. Mas, em geral, os pleonasmos são ditos por crassa ignorância e falta de reflexão de quem os pronuncia, pois se refletissem um pouco perceberiam que não há necessidade alguma da ênfase viciosa de suas expressões.
E também não será quando você “lê” estas informações, amiga leitora, que ficará mais sábia, e, sim, quando você “ler” e praticar, sem se sentir ofendida, cada uma destas dicas, sem perder a simplicidade, a clareza e a objetividade na comunicação falada e escrita.
Por fim, peço-lhe um favor, amigo leitor: quando vir alguém maltratando a língua, não o critique publicamente. Chame-o num canto à parte e alerte-o sobre a “pedalada” linguística. Anote, confira o suposto erro em boa gramática, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o menosprezado VOLP, e em bom dicionário, com muita atenção, para não ser cúmplice desse elemento, como dizem os policiais, e acabar assassinando a língua pátria.
Se você gostaria de estar em algum lugar, não diga que queria “está” ali, pois o que você deseja é “estar”. O verbo aqui fica no infinitivo.
Quando se diz “Vi com meus próprios olhos...” está-se enfatizando o ato de “ver”, com a expressão “com meus próprios olhos”, embora com os olhos do leitor é que eu não poderia ver, a não ser que fosse cego e tu me transmitisses, por osmose, tua visão.
Outros pleonasmos: a) encarei o problema de frente; b) foi estabelecido um elo de ligação; c) subi para cima; e) desci para baixo... É impossível encarar sem que o seja de frente; todo elo é de ligação; subir só pode ser para cima e descer somente é possível se for para baixo.
Ouvi de um crítico a recriminação a outro, que caluniava a crença alheia: — Vamos parar com essas alegorias... Em verdade, o que ele queria dizer era: — Vamos parar com essas aleivosias. Alegorias são figuras de linguagem, simbolismo de uma narração. Já aleivosias são falsas acusações, calúnias. Era este o seu pensamento: — Vamos parar com essas aleivosias, ou seja, com essas acusações falsas.
— Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar. (Machado de Assis)




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