sábado, 24 de outubro de 2015

Os octogenários e os dois horizontes



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Faleci aos 69 anos, no dia 29 de setembro de 1908. Na época, havia lançado aquele que considerei meu último livro: Memorial de Aires. Em minhas correspondências a Joaquim Nabuco, Mário de Alencar, José Veríssimo e outros amigos, considerei que ali se encerrava minha produção literária, pois entrara na casa dos setenta. Fizera 69 anos no dia 21 de junho e me via muito doente e perto da indesejada da gente.
Pois bem, leitor amigo, dessa época para cá muita coisa mudou em termo de longevidade. Há poucos dias, foi divulgada a história de um jovem que, aos 76 anos, se formou em Teologia e, aos 82, bacharelou-se em Direito. Agora pensa cursar o mestrado em Direito ou prestar o exame de ordem da OAB. Como diria a mineira: Eta homem siligristido!
É o Sr. Lazário, mas quem sabe se seu nome verdadeiro não é Lázaro, o amigo ressuscitado por Jesus Cristo?!
Tenho a impressão de que, atualmente, quanto mais a pessoa troca a materialização do espírito pela espiritualização da matéria, mais ela vive. Falemos apenas de alguns espíritas octogenários. A sequência é por idade ascendente.
Lucy Dias Ramos nasceu em Rio Novo, MG, em 1935. Há décadas, dedica-se à divulgação espírita em Juiz de Fora, MG. Foi presidente da Casa Espírita, por duas vezes e dirigente de outras instituições espíritas nessa cidade. É articulista de diversos periódicos espíritas, entre os quais a Revista Internacional de Espiritismo, o Reformador e a Presença Espírita. Publicou, pela Federação Espírita Brasileira, as obras Gotas de otimismo e paz, Luzes do entardecer, Maior que a vida e Recados de amor. Pela editora SOLIDUM, publicou recentemente Mediunidade e nós, e continua em plena produção. Saúde e vida longa para ela.
Richard Simonetti, que completou 80 anos no dia 10 de outubro de 2015, publicou cerca de 50 livros e é articulador mensal de alguns periódicos espíritas renomados, como Folha Espírita, Reformador e Revista Internacional do Espiritismo. Desenvolve uma atividade socioassistencial extraordinária em São Paulo. Confira aqui: www.richardsimonetti.com.br.
Eurípedes Kühl está com 81, e ainda produz mais do que muito jovem da minha idade ou menos, bem menos... Possui uma trintena de obras publicadas. Atualmente, a Federação Espírita Brasileira acaba de relançar a quarta edição de sua obra Espiritismo e genética. Acesse o blog: www.euripedeskuhl.blogspot.com para conhecer melhor esse jovem.
Jair Ribeiro de Oliveira, aos 86 anos, mostra-se lúcido e prepara a publicação de seu quarto livro espírita, em Contagem, MG. Fundou e dirigiu três centros espíritas e é palestrante mui requisitado nas cidades próximas a Belo Horizonte. Possui um acervo de mais de 2.000 obras espíritas em sua biblioteca em Contagem-MG, onde passa o dia pesquisando e produzindo textos valiosos baseados em sua rica experiência de vida.
E, por fim, Divaldo Pereira Franco, o maior expositor espírita deste século, aos 89 anos, nem pensa em parar de falar e de escrever no mais alto nível. Já publicou cerca de trezentas obras espíritas, com mais de 7,5 milhões de livros vendidos. Preside a Mansão do Caminho, obra socioassistencial espírita, em Pau da Lima, Salvador, BA, que proporciona lar e educação a centenas de órfãos há mais de sessenta anos e desenvolve ali relevante trabalho socioassistencial. Eis aqui seu blog: www.divaldofranco.embaixadordapaz.blogspot.com
Ante o exposto, convido o amigo que me lê a refletir nos versos metafraseados do seguinte poema, que dediquei, no passado, a M. Ferreira Guimarães, mas que, agora modificados, dedico a todos esses esperançosos e atuantes espíritos, cuja fé demonstra a certeza de que nada se perde do bem que praticamos:

OS DOIS HORIZONTES

Aos jovens octogenários do presente

DOIS HORIZONTES há na Natureza:
Um horizonte é o do soma
Que se veste ao reencarnar;
Outro horizonte é o do espírito
Que sopra em qualquer lugar(1);
Na vida material
Vive a alma esperançosa
De no futuro alcançar
A glória espiritual.

Mergulhado na matéria,
Em doce recomeçar,
A pureza da criança
Pede amor e quer brincar.
Valorizando seu soma,
O ser não sabe o que faz
E tudo que ele toma
Tem as bênçãos maternais.

Porém, já na mocidade,
Eis que já não cabe mais
Querer tudo para si
E nada para os demais.
De posse da consciência
Em relação ao que faz
A alma já tem ciência,
A infância ficou pra trás.

Depois, amadurecido
Pelas vitórias e quedas,
O horizonte do espírito
Desdenha das vãs moedas
Do horizonte do soma,
Pois busca novos valores
E agora já não mais toma,
Por não mais ter dois senhores.

Que esperas, homem? — Prossigo
No céu das aspirações,
O soma tendo vencido
Das infantis ilusões.
Que queres, homem? — Prossigo,
Mesmo em avançada idade,
Testemunhando a verdade
Da certeza do futuro:
DOIS horizontes, mas uma só vida.

Ao leitor curioso que desejar ler o poema que serviu de inspiração a esse, dou-lhe a seguinte referência: ASSIS, Machado. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. III. Poesias coligidas, p. 201- 202. OS DOUS HORIZONTES. Ou então escreve no Google: OS DOUS HORIZONTES.

(1) João, 3:8.
  

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