sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

No campo da mediunidade, “incorporação” existe?


Uma leitora pergunta-nos se é correto o uso do termo “incorporação” nos casos em que um médium, no estado de transe, transmite pela fala a mensagem de um Espírito.
Já tratamos do assunto na edição 127 da revista O Consolador
Eis o link que remete o interessado ao texto publicado: http://www.oconsolador.com.br/ano3/127/oespiritismoresponde.html
Dissemos naquela oportunidade que quem estuda o Espiritismo sabe que Allan Kardec mudou de ideia com relação à "possessão", que ele rejeitou até O Livro dos Médiuns e depois admitiu claramente em A Gênese. Quando produzida por um mau Espírito – diz o Codificador – a possessão tem todos os característicos da subjugação, mas, diferentemente da subjugação, a possessão pode ser produzida por um bom Espírito. Neste caso, pode se aplicar ao fenômeno o termo “incorporação” utilizado por Léon Denis e, décadas mais tarde, por André Luiz e vários autores.
A mudança de pensamento do Codificador deu-se por força dos fatos. Demorou algum tempo para que ele conhecesse o fenômeno da incorporação, hoje tão conhecido dos que trabalham na área da mediunidade. Na Revista Espírita de 1863 ele aludiu ao episódio, que muito o impressionou na ocasião. Depois de analisar um caso de possessão – o da senhorita Júlia – Kardec escreveu: “Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” (Revista Espírita de 1863, tradução de Júlio Abreu Filho, Edicel, pág. 373.)
É compreensível que a dúvida com relação ao uso do termo “incorporação” ainda persista, mas é algo que decorre simplesmente do desconhecimento do que inúmeros autores escreveram sobre o assunto.
No fenômeno de incorporação, o Espírito do manifestante se incorpora efetivamente no organismo do médium? Ou opera ele, a distância, pela sugestão mental e pela transmissão de pensamento, como o pode fazer o Espírito exteriorizado do sensitivo?
Segundo Léon Denis, semelhante questão foi, em sua época, proposta por alguns experimentadores.
O exame atento dos fatos – afirma Denis – nos leva a crer que as duas explicações são igualmente admissíveis, conforme os casos. Em muitos deles, a incorporação pode ser real e completa e é mesmo algumas vezes inconsciente, quando, por exemplo, certos Espíritos pouco adiantados são conduzidos por uma vontade superior ao corpo de um médium e postos em comunicação conosco, a fim de serem esclarecidos sobre sua verdadeira situação. (Confira, a respeito do pensamento de Léon Denis, o livro No Invisível, cap. XIX - Transe e incorporações.)
No fenômeno da incorporação, como os participantes de sessões mediúnicas sabem muito bem, o semblante, a voz, as sensações e o modo de se expressar do médium são com frequência muito diferentes do que ele mostra em seu estado normal.
Foram, portanto, os fatos que fizeram com que o termo “incorporação”, embora não utilizado por Kardec, passasse a fazer parte dos textos em que autores diversos, encarnados e desencarnados, tratam do tema mediunidade. 
Emmanuel o utilizou no livro O Consolador, na resposta dada à pergunta 397.
André Luiz o mencionou nos capítulos 32, 42 e 43 do livro Desobsessão, bem como no cap. 8 do livro Nos Domínios da Mediunidade e no cap. VI de Sexo e Destino, em que ele descreve um curioso episódio que envolveu Cláudio Nogueira e o Espírito de um alcoólatra.
Quando o Espírito, no afã de desfrutar a bebida, incorporou-se a Cláudio, André Luiz disse que se produzia ali algo semelhante ao encaixe perfeito. Cláudio-homem absorvia o desencarnado, à guisa de sapato que se ajusta ao pé. Fundiram-se os dois, como se morassem num só corpo. Altura idêntica. Volume igual. Movimentos sincrônicos. Identificação positiva. Levantaram-se a um tempo e giraram integralmente incorporados um ao outro, na área estreita, arrebatando o frasco de uísque. André não podia dizer a quem atribuir o impulso inicial de semelhante gesto, se a Cláudio que admitia a instigação ou se ao obsessor que a propunha. A talagada rolou através da garganta, que se exprimia por dualidade singular: ambos os dipsômanos estalaram a língua de prazer, em ação simultânea. André aproximou-se então de Cláudio, para avaliar até que ponto ele sofria mentalmente aquele processo de fusão; mas ele continuava livre, no íntimo, e não experimentava qualquer espécie de tortura, a fim de render-se. Hospedava o outro, simplesmente; aceitava-lhe a direção; entregava-se por deliberação própria. Nenhuma simbiose em que fosse a vítima. A associação era implícita, a mistura era natural. Efetuava-se a ocorrência na base da percussão. Apelo e resposta. Eram cordas afinadas no mesmo tom.
Divaldo Franco e J. Raul Teixeira também se valeram do termo “incorporação” nas respostas que deram às perguntas 31, 58, 69 e 83 do livro Diretrizes de Segurança, sendo que Divaldo voltou a fazê-lo ao responder à pergunta 53 da 2ª Parte do livro Qualidade na Prática Mediúnica.
Eis um trecho do que foi dito pelo conhecido médium: “Há muitos anos, numa prática mediúnica em nossa Casa, uma Entidade muito sofredora se comunicou por meu intermédio. Era o Espírito de uma senhora que havia desencarnado na ocasião do parto. Quando ela começou a sentir as cólicas da dilatação da bacia para expulsar o feto, veio a desencarnar inesperadamente. No instante em que o Espírito incorporou, comecei a sentir uma grande indisposição no estômago, acompanhada de mal-estar, falta de ar, enjoo. Quando o doutrinador começou a falar, deu-me uma vontade de sair dali correndo, tal a maneira despropositada com que era feita a doutrinação. Ao invés de utilizar os recursos do passe, da sugestão mental otimista para diminuir o estado de paroxismo em que se encontrava o Espírito, ele resolveu apenas dizer palavras sem nenhuma expressão socorrista. Encontrando-me ainda num semitranse, comecei a pensar: - Ah! Meu Deus, não vou aguentar! Finalmente a incorporação se consumou e eu perdi a consciência. Quando voltei ao normal sentia dores físicas atrozes que perduraram durante três dias. Posteriormente, contei a alguém que teve doze filhos: - Fulana, estou com uma dor aqui nos rins e nos quadris, horrível! Ela retrucou: - Divaldo, isto é dor de parto!” (Qualidade na Prática Mediúnica, 2ª Parte, pergunta 53.)


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