domingo, 3 de julho de 2016

Reflexões à luz do Espiritismo



De que vale a fé quando inoperante?

É sabido, entre os cristãos, que Martinho Lutero, ao referir-se à Epístola de Tiago, um dos livros que compõem o Novo Testamento, chamou-a, pejorativamente, de “epístola de palha”. Um dos motivos é que ela seria contrária às ideias de Paulo relativas à justificação pela fé e não teria, na visão de Lutero, a necessária fundamentação no Evangelho.(1)
Antes de comentar o assunto, lembremos o que Tiago escreveu no cap. 2 de sua epístola:
“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?
E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tiago, 2:14-18.)
No cap. XV d´O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado “Fora da caridade não há salvação”, Allan Kardec inseriu, logo na abertura, duas conhecidas parábolas contadas por Jesus.
A primeira é popularmente chamada de Parábola do Juízo Final (Mateus, cap. XXV, vv. 31 a 46). A segunda é a Parábola do Bom Samaritano (Lucas, cap. X, vv. 25 a 37).
Ambas tratam do tema salvação, que é tão caro aos teólogos cristãos e aos religiosos em geral, embora seu significado para protestantes, evangélicos e católicos seja bem diferente do que, sobre o assunto, entendem os espiritistas.
Nas duas parábolas Jesus destaca a importância da ação do bem e das obras de caridade como ingredientes fundamentais à chamada salvação.
Na primeira, o Senhor diz aos que chama benditos de meu Pai:
Tive fome e me destes de comer...
Tive sede e me destes de beber...
Careci de teto e me hospedastes...
Estive nu e me vestistes...
Achei-me doente e me visitastes...
Estive preso e me fostes ver...
Na segunda, o Mestre relata-nos como um exemplo a ser seguido:
Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.  No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar...
Não existe, em todas as epístolas que compõem o Novo Testamento, nenhuma que possua tão grande afinidade com o pensamento de Jesus quanto a que escreveu Tiago.(2)
Chamá-la de “epístola de palha” oculta certamente outros motivos e produz, com toda a certeza, consequências danosas à evolução espiritual dos que adotam semelhante ideia. É também provável que esteja nesse fato a razão pela qual as religiões protestantes em geral, incluindo aí as chamadas igrejas evangélicas, não têm dado às obras e à caridade evangélica a ênfase que elas merecem e que Jesus, com toda a clareza, destacou nas parábolas a que nos reportamos.
Como acertadamente ensina o Espiritismo, Jesus nos mostrou que a salvação se processa, sim, através do amor em ação e não por meio simplesmente de uma fé inoperante que, tal qual uma árvore estéril, não produz frutos.

(1) Sobre a crítica de Lutero à epístola de Tiago, confira:
(2) Sobre o assunto leia:



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