sábado, 1 de outubro de 2016

Contos e crônicas



A prece da cachorrinha

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, ouvi dizer que Tancredo Neves dizia o seguinte: “Quando algum político precisa explicar, depois de dito, algo que repercutiu mal perante a nação, melhor teria sido não ter dito nada antes”. A clareza é qualidade fundamental na comunicação. Sem ela, tudo são trevas.
É exatamente assim que ocorre com os textos mal escritos: se o aluno ou uma pessoa qualquer escreve algo que só está claro para si e não para quem lê, melhor seria não ter escrito aquilo. A ambiguidade ou duplo sentido pode ser interessante na literatura, quando o narrador escreve alguma coisa com um sentido literal e outro metafórico. Era o que eu fazia, quando encarnado pela última vez, no Rio de Janeiro, após minha encarnação como Laurence Sterne, na Inglaterra, no século XVIII. Por isso mesmo, lia suas obras e imitava seu estilo burlesco e satírico. Algo ali era-me familiar...
Houve um tempo em que os animais falavam. Se os cidadãos da atualidade se inspirassem na sabedoria daqueles seres, por certo, o mundo seria bem mais prático. Cito um caso.
Acompanhei Joteli e esposa em visita a uma amiga recém-operada do ombro ontem. Ao adentrarem a casa da convalescente, sua cachorrinha pequinês recebeu os recém-chegados com estardalhaço, latindo insistentemente. Entretanto, logo parou de latir quando os anfitriões lhe pediram que se calasse. Chama-se Lis e é bastante agitada. Acompanhou o dono da casa e seus amigos até a sala e sentou-se num dos sofás, atenta às suas conversas com os recém-chegados.
De vez em quando, latia, como quando o genro e a filha do Paulo, o anfitrião, que lá estavam há algum tempo, despediram-se. No entanto, um pouco mais tarde, fiquei impressionado com sua manifestação de respeito, no momento em que a esposa de Joteli propôs fazer uma prece de rogativa aos céus em benefício da melhora da amiga enferma que ali já estava.
Lis fechou seus olhos e manteve-se num silêncio profundo e reverencioso, assim permanecendo até o fim da prece.
Talvez seja por isso que um ex-ministro afirmou, ao lhe ser perguntado sobre a razão de seu profundo amor ao seu cãozinho de estimação: — Cachorro também é gente. O problema não é esse e, sim, o de que muita gente é tratada pior do que cachorro, mas muito cachorro demonstra ter mais respeito às coisas divinas do que nós.
Estendemos as mãos, aplicamos um passe na convalescente e em seu esposo. Lis fechou os olhinhos e nos acompanhou, enquanto orávamos, como se entendesse tudo. Certamente que não pescava uma só palavra do que dizíamos, mas sentiu as vibrações positivas e delas também desfrutou. É a alma, em processo de transformação, como disse o filósofo espírita francês Léon Denis em sua obra intitulada O problema do ser, do destino e da dor: “A alma dorme nos minerais, sonha nos vegetais, agita-se nos animais e desperta no homem”.
Eu diria que, antes, a alma já despertou nos cachorros...
Depois disso, o ser espiritual continua trabalhando os sentimentos, errando e acertando. Percorre a estrada eterna da lei de evolução, submetido à lei de ação e reação, até aprender que somente o amor é Lei Divina. Então, após o seu despertar, passa a se esforçar permanentemente no bem, até alcançar o objetivo máximo da recomendação do Cristo: “Brilhe a vossa luz!”







Como consultar as matérias deste blog?
Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.





Nenhum comentário:

Postar um comentário