sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Correio mediúnico



Contrabando

Hilário Silva

– Acautele-se, meu filho! Fuja de qualquer desrespeito ao caminho legal. Resigne-se ao dever. O trabalho honesto á a vida segura. Pode haver embaraço, sim. Pode haver. Mas o suor na obrigação bem cumprida é o preço correto da verdadeira felicidade! – assim falava o Espírito de Da. Maria Clara ao seu filho Leonardo, através do médium. – Não queira contrabando. Você é tintureiro. Cuide da roupa limpa, que é serviço de Deus. Lembre-se de que, às vezes, tudo exigindo, costumamos tudo perder. A criatura tem livre-arbítrio para melhorar o destino ou agravá-lo, todos os dias.
Entretanto, ali mesmo, ao término da sessão, Leonardo Madeira falava aos amigos:
– Ora, ora. Minha mãe mora noutro mundo... Aposto que mudaria se estivesse no nosso... Tenho um filho para educar e o colégio é um osso duro... Minha vida é meu filho. Jurei que não terá de futuro as minhas dificuldades...
– Mas ouça, Leonardo – falava Serra, um dos diretores do templo –, você precisa considerar... Se você realmente negocia de forma clandestina...
– Clandestina, por quê? Meu trabalho é tão lícito quanto os outros. Compro e vendo, é tudo que faço.
E Leonardo continuou. Ricardo era o filho feliz.
Para estudos de Ricardo, passeios de Ricardo, exigências de Ricardo e loucuras de Ricardo, fizera-se o receptador de perfumes e isqueiros, revólveres e rádios, no comércio ilegal.
Burlava, com esmero, os agentes do fisco. E a renda aumentava. Chegou, porém, a noite de enorme desilusão.
Recebera Leonardo três revólveres finos para passar adiante. À noite, o filho, alcoolizado em festa junina, chega em casa e deslumbra-se. Observa um exemplar, apalpa o outro, ainda o terceiro. Por fim, simpatiza mais fortemente com um deles. E tem a ideia louca de disparar, como complemento aos folguedos daquela noite.
Carrega a arma e experimenta, mas os dedos tremem, altera-se a direção e a bala lhe vara o peito. Rebuliço. Gritaria. Corre-corre. Ambulância. Mas, em poucos minutos, Leonardo, desalentado, recolhe o filho morto. 

Do cap. 4 do livro A Vida Escreve, de Hilário Silva, obra psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.


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