sábado, 12 de agosto de 2017

Contos e crônicas



Flanelinhas e passagens de pedestres

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Faz uns cinco anos que estivemos em Salvador, onde residi quando solteiro, há mais de quatro décadas. Agora, ali estava com esposa, filha, genro e neto. Mais precisamente, no Largo do Pelourinho, na Cidade Alta, onde há diversas atrações turísticas, como museus, associações de capoeiristas e lojas de artesanato.
Estávamos de carro locado, e meu genro era o motorista. Tentamos estacionar numa vaga de estacionamento público, quando nos vimos cercados por “flanelinhas”. Um deles dirigiu-nos a palavra e cobrou antecipadamente dez reais para “vigiar” nosso carro, caso quiséssemos deixá-lo ali. O “preço” a ser pago antecipadamente era da hora, mas se o carro ficasse mais tempo, teríamos de pagar o equivalente.
Perguntamos-lhe se ele era funcionário da prefeitura. Ele disse que não. Nesse momento, um dos guardas do local aproximou-se e, indignados, expusemos-lhe a situação.
O agente de segurança também se demonstrou altamente perplexo e passou a ameaçar o “flanelinha”, caso ocorresse qualquer coisa com o nosso automóvel. O teatro armado na hora foi perfeito:
— Não incomode estes cidadãos. Eles vão deixar o carro aqui e vão aonde quiserem. Quando voltarem, se você os importunar vai se ver comigo.
— Sim, senhor... sim senhor! Eu só...
— Cale a boca!
— Mas...
— Fique calado! já lhe falei... Se houver qualquer reclamação dessas pessoas contra você essa será a primeira e a última.
Em seguida, disse-nos:
— Podem ir ao seu passeio, cidadãos. Vocês não serão mais incomodados.
Ficamos até emocionados com a autoridade do guarda. Chegamos a julgá-la, mesmo, um tanto exagerada, mas saímos dali alegres e tranquilos. Fomos ao comércio local, compramos algumas lembranças, visitamos um museu, assistimos a um evento de capoeira e, uma hora depois, retornamos ao lugar do estacionamento.
Embora o dia ainda estivesse claro, pois ainda não dera dezoito horas, para nossa surpresa, não havia mais um único guarda ali, mas “flanelinhas” é que não faltavam. O que fora repreendido pelo guarda havia posto um carro na frente do nosso, impedindo-nos a saída. Ao avistar-nos, como se nada houvesse acontecido, cobrou pela hora em que o carro ali ficara e, só após o pagamento da “taxa”, empurrou o veículo que impedia a saída do nosso.
Também no Rio de Janeiro, há poucos anos, no centro da cidade, à noite, minha família e a de meu primo procurávamos um estacionamento público para deixar nosso carro, após o que jantaríamos em um dos restaurantes locais. Depois de muito procurar, encontramos uma vaga, mas assim que paramos ali, surgiu à nossa frente um “flanelinha” com a seguinte informação:
— Cinco “real”, doutor, para vigiar... E para não acontecer nada com o carro, mais cinco, na volta...
Não precisou dizer mais... saímos dali e fomos procurar outro local para estacionar, pois a insegurança já estava instalada. Nenhum guarda estava nas proximidades. Em Brasília, os “flanelinhas” nos agradecem qualquer real, ou mesmo centavos, que lhes damos; salvo rara exceção. Ainda bem! Por via das dúvidas, sempre procuro ter algumas notas de dois reais e moedinhas de um real no carro.
Aqui no Plano Piloto, onde resido, em Brasília, existem diversas passagens subterrâneas de pedestres. Em pleno centro da Capital, entretanto, tais passagens são verdadeiramente imundas e não oferecem nenhuma segurança para quem tem a coragem de por ali passar. Vândalos quebram pisos e as paredes outrora ladrilhados, bem como espalham todo o tipo de sujeira por lá. À noite, esses locais servem de abrigo a moradores de rua que nos brindam com pontas de cigarro, garrafas vazias de cachaça, dejetos fecais e urina.
Quanta diferença entre preservação e segurança de nosso espaço turístico e o de países europeus, como Portugal, por exemplo. Estivemos em Lisboa e outras cidades portuguesas há poucos anos e ficamos admirados com a limpeza dos locais públicos. Raras eram as pichações nesses lugares, e a segurança nos assegurava o direito de ir e vir sem sobressaltos.
Um fato pitoresco, que observamos em Lisboa, ao passarmos por estacionamento em frente a pequena loja, foi o cartaz colocado ali: “Proibido estacionar. Obrigatório ler”.
É bem verdade que, em Paris, onde também já estivemos, a limpeza dos espaços públicos não era tão exemplar. O francês fuma muito e joga guimbas de cigarro para todo lado. Entretanto, havia boas condições de segurança, nas ruas francesas, à noite.
Enquanto isso, na capital do Brasil, país com uma das mais altas arrecadações de impostos do mundo, quase nada se faz para proporcionar aos turistas e cidadãos locais ao menos um pouco de segurança e prazer no desfrute de um bom restaurante à noite, sem sobressaltos.
Vejam, que beleza!... quanta segurança! Trabalhos “artísticos” nas paredes... (foto ao lado.) E assaltos, diversos assaltos! Nunca vi um guarda ali! 
E essa é apenas uma das diversas passagens subterrâneas construídas para não sermos atropelados ao tentar cruzar o eixinho, logo acima.






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