sábado, 31 de março de 2018




O bem transforma o mal
   
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Na questão 511 d’O Livro dos Espíritos, somos informados de que, se temos um Espírito protetor, que nos induz ao bem, também sofremos a influência de Espíritos maus, que procuram desviar-nos do caminho do bem. Nosso livre-arbítrio fará a escolha e vencerá aquele por quem nos deixemos influenciar.
Com base em nossas tendências negativas ou positivas, podemos aproveitar as influências espirituais de modos bastante característicos. Aos espíritas, vale a pena refletir sobre o alerta do discurso de Allan Kardec em Lyon, publicado na Revista Espírita de outubro de 1860:

Há, senhores, três categorias de adeptos: os que se limitam a acreditar na realidade das manifestações e que, antes de mais nada, buscam os fenômenos. Para eles, o Espiritismo é uma série de fatos mais ou menos interessantes.
Os segundos veem algo mais do que fatos. Compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral que dele resulta, mas não a praticam. Para eles, a caridade moral é uma bela máxima, e eis tudo.
Os terceiros, enfim, não se contentam em admirar a moral: praticam-na e aceitam todas as suas consequências. Bem convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar esses curtos instantes para marchar na senda do progresso que lhes traçam os Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e reprimir suas inclinações más. Suas relações são sempre seguras, porque suas convicções os afastam de todo pensamento do mal. Em tudo a caridade lhes é regra de conduta. São estes os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.

Na primeira categoria, os crentes curiosos, sempre em busca de fenômenos, ainda estão adormecidos sobre a necessidade de autorreforma para o bem. Na segunda categoria, estão os admiradores acomodados da moral, para quem o bem é algo que se aplica a outrem, mas em relação a si nada há que modificar. Na mais alta categoria estão aqueles que Kardec denomina, com justiça, de espíritas cristãos, por esforçarem-se cotidianamente em praticar o bem e melhorar suas tendências negativas.
Essa transformação moral inicia-se no pensamento. Disse Kardec: “Por sua vontade, pode o homem livrar-se sempre do jugo dos Espíritos imperfeitos, porque, em virtude de seu livre-arbítrio, tem a escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegou a ponto de paralisar a vontade, e se a fascinação é bastante grande para obliterar a razão, a vontade de outra pessoa pode substituí-la” (In: Revista Espírita, out. 1858).
 Mas o antídoto do mal é o bem. Repetindo a conclusão a que cheguei em outro artigo, na composição da palavra servir encontramos dois verbos: "ser" e "vir". Ao trocarmos as posições das sílabas dessa palavra e as ligarmos com a preposição "a" teremos "vir (a) ser". É o devenir, devir (fr.) ou vir a ser: transformação incessante e permanente, consequência natural de quem deseja sinceramente evoluir, mas que requer sua vontade e determinação.
Como não basta deixar de praticar o mal, mas “fazer o bem no limite de suas forças”1, quem deseje alcançar a felicidade dos bons precisa servir ao bem, de modo incondicional, em seu eterno vir a ser a caminho da evolução.
A música e a poesia de cunho elevado nos auxilia a enxergar o belo literário quando voltado para o culto ao bem, melhor do que as manifestações artísticas de mentes doentias. Pensando assim, elaboramos o seguinte poema, intitulado Bem-Viver:
           
Amar o próximo, dar-lhe atenção,
É agir com caridade a cada dia
E devotar-se ao bem como cristão.

No seu fazer e agir sempre no bem
Com devoção e com simplicidade
Vive-se bem aqui e mais além.

Amar, assim, a humanidade inteira,
Requer de nós postura de humildade,
Amor ao bem de forma verdadeira.

A teoria em nós é só metade
Do bem que o bom Jesus nos ensinou,
Nosso Caminho e Vida de Verdade. 

Quem busca aqui na Terra a santidade,
Recomendada há mais de dois mil anos,
Eleva sua espiritualidade.

Não posterguemos a bondade, pois
Ser bom agora é viver na luz,
Ser bom agora é não sofrer depois.

Ser bom é nunca desprezar ninguém.
Segue sereno os passos de Jesus,
Só vence o mal quem vive para o bem.

Decorre do exposto que o ser sempre ocupado na caridade serve não somente quando pensa e fala, mas quando age em favor do próximo, como nos recomenda Jesus. Serve incondicionalmente em seu incessante vir a ser melhor hoje que ontem, amanhã melhor que hoje, seguindo os passos de Nosso Senhor, que caminha adiante em nossa condução ao EU SOU2, Supremo Criador de todos nós, nosso Pai, Inteligência Suprema que nos legou uma só coisa para nossa felicidade: servir ao bem.
Quando aprendermos o verdadeiro significado de servir, sem qualquer intenção, mesmo oculta, de retribuição ao benefício que façamos, mas por amor ao próprio bem, como o Senhor nos ensinou, estaremos modificando nosso Espírito sempre para melhor, nesse eterno vir a ser. E nossa alma resplandecerá na luz, não pelo que de bom falamos, mas sobretudo pelo bem que fazemos.
 Como todos nós teremos de colher conforme semeamos, quanto mais nos colocarmos no lugar do próximo, e nos conscientizarmos de que o nosso bem é resultante do bem daquele, mais teremos contribuído com a felicidade do nosso ser. Podemos começar pela lembrança permanente da regra áurea recomendada por Jesus e parafraseada em latim: Quod tibi non vis alteri ne facias. Ou seja: “Não faças a outrem o que não queres para ti”.

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2013 (ed. histórica), q. 642.
2 Em Êxodo, cap. 3, v. 14, Deus é representado pela expressão EU SOU, ou seja, somente Ele desfruta desse eterno Ser, ao contrário de nós, que estamos num eterno “vir a ser” resultante de nossas ações.







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sexta-feira, 30 de março de 2018





A Alma é Imortal

Gabriel Delanne

1ª Parte

Iniciamos nesta edição o estudo do clássico A Alma é Imortal, de Gabriel Delanne, conforme tradução de Guillon Ribeiro, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura. 

Questões preliminares

A. De que modo os espíritas descobriram a existência do perispírito?
B. Onde se encontram arquivadas as leis organogênicas pelas quais o corpo físico se forma e se mantém enquanto vivo?
C. Sob que forma o corpo espiritual se apresenta nos seres desencarnados?

Texto para leitura

1. A ciência espírita prova que a alma não é uma entidade ideal, uma substância imaterial sem extensão, mas sim que é provida de um corpo sutil, em que se registram os fenômenos da vida mental, ao qual foi dado o nome de perispírito. O “eu” pensante é inteiramente distinto do seu envoltório, mas alma e perispírito são inseparáveis um do outro. (Obra citada, pág. 12)
2. Foi pela observação que os espíritas descobriram a existência do perispírito. Aliás, os magnetizadores já haviam chegado à mesma conclusão, valendo-se de outros métodos. Assim é que, segundo Billot, Deleuze e Cahagnet, a alma conserva, após a morte, uma forma corporal que a identifica, observação confirmada pelos médiuns videntes. (Pág. 14)
3. As narrativas dos sonâmbulos e dos videntes têm grande valor, mas não nos dão uma prova material. Eis por que os espíritas fizeram todos os esforços por obter a prova inatacável e o conseguiram: as fotografias de Espíritos desencarnados, as impressões por estes deixadas em substâncias moles ou friáveis, e as moldagens de formas perispirituais. (Pág. 14)
4. Esse caminho foi aberto pelos fenômenos de desdobramento do ser humano, denominados por vezes de bicorporeidade. Há no momento mais de dois mil fatos, bem verificados de aparições de vivos, mas os pesquisadores não se limitaram a observá-los e chegaram a reproduzi-los experimentalmente. (Pág. 15)
5. Descobriu-se, por fim, que o organismo fluídico contém todas as leis organogênicas pelas quais o corpo se forma, o que explica como a forma típica de um indivíduo pode manter-se durante a vida toda, sem embargo da renovação incessante de todas as partes do corpo material. (Pág. 16)
6. A natureza íntima da alma ainda nos é desconhecida. Quando dizemos que ela é imaterial, devemos entender essa expressão em sentido relativo e não absoluto, porquanto a imaterialidade completa seria o nada. Ora, a alma é alguma coisa que pensa, sente e quer. Assim, quando a qualificamos de imaterial, queremos dizer que sua essência difere tanto do que conhecemos fisicamente, que nenhuma analogia guarda ela com a matéria. (Pág. 17)
7. O corpo espiritual reproduz, quase sempre, o tipo que o Espírito apresentava na sua última encarnação e é provavelmente a essa semelhança que se devem as primeiras noções acerca da imortalidade. (Pág. 18)
8. Em todas as partes do globo, mesmo entre os indígenas, a sobrevivência do ser pensante é unanimemente afirmada. Remontando aos mais antigos testemunhos que possuímos – isto é, aos hinos do Rigveda – vemos que os homens que viviam nas faldas do Himalaia, no Sapta Sindhu, tinham intuições claras sobre o além da morte. (Pág. 19)
9. As modernas experiências sobre os Espíritos que se deixam fotografar ou se materializam mostram que o perispírito é uma realidade física tão inegável como o corpo material. Ora, era essa a crença dos antigos habitantes da margem do Nilo e constitui fato digno de nota que, no alvorecer de todas as civilizações, topemos com crenças fundamentalmente semelhantes. (N.R. Esta obra surgiu logo após A Evolução Anímica, que é de 1895.) (Pág. 21)
10. No Egito, antes mesmo das primeiras dinastias históricas, surgiu a ideia de que somente “uma parte do homem” ia viver segunda vida. Não era uma alma, era um corpo, diferente do primeiro, mas proveniente deste, embora mais leve, menos material. Esse corpo, quase invisível, saído do primeiro corpo mumificado, estava sujeito também a todos os reclamos da existência: era preciso alojá-lo, nutri-lo, vesti-lo. Sua forma, no outro mundo, reproduzia - pela semelhança - o primeiro corpo. É o ka, o duplo, ao qual, no antigo Império - 5004 a 3064 a.C. -, se prestava o culto aos mortos. (Pág. 22) (Continua no próximo número.)

Respostas às questões preliminares

A. De que modo os espíritas descobriram a existência do perispírito?
Foi pela observação que os espíritas descobriram a existência do perispírito, uma conclusão a que já haviam chegado os magnetizadores, valendo-se de outros métodos. Segundo Billot, Deleuze e Cahagnet, a alma conserva, após a morte, uma forma corporal que a identifica, observação confirmada pelos médiuns videntes. (A Alma é Imortal, pág. 14.)
B. Onde se encontram arquivadas as leis organogênicas pelas quais o corpo físico se forma e se mantém enquanto vivo?
No corpo espiritual, ou perispírito. O organismo fluídico contém todas as leis organogênicas pelas quais o corpo se forma, o que explica como a forma típica de um indivíduo pode manter-se durante a vida toda, sem embargo da renovação incessante de todas as partes do corpo material. (Obra citada, pág. 16.)
C. Sob que forma o corpo espiritual se apresenta nos seres desencarnados?
O corpo espiritual reproduz, quase sempre, o tipo que o Espírito apresentava na sua última encarnação. Provavelmente é a essa semelhança que se devem as primeiras noções acerca da imortalidade. (Obra citada, pág. 18.)





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quinta-feira, 29 de março de 2018




Os exilados de Capela e o
paraíso perdido

Este é o módulo 73 de uma série que esperamos sirva aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura. 

Questões para debate

1. Adão e Eva foram os primeiros seres humanos a habitar a Terra?
2. A migração de Espíritos entre os diferentes planetas constitui uma regra ou é uma exceção?
3. Que ensina o Espiritismo acerca dos exilados de Capela?
4. Qual é o significado, segundo o Espiritismo, da alegoria pertinente à árvore da ciência?
5. Os exilados de Capela já retornaram ao seu planeta de origem?

Texto para leitura

As migrações de Espíritos entre os planetas é fato comum
1. Moisés relata no Gênesis a história de Adão e Eva, que teriam sido – segundo a interpretação literal das Escrituras – os primeiros seres humanos a habitar a Terra. Criados por Deus, eles viviam num jardim de delícias: o Éden bíblico, mas, tentados pela serpente, comeram o fruto proibido da árvore da ciência e foram expulsos do paraíso. Como consequência, sua sobrevivência dependeria, a partir de então, do seu próprio trabalho.
2. Essa explicação, adequada ao nível de compreensão do povo judeu da época de Moisés, não pode ser aceita como verdade absoluta nos tempos atuais, em que o progresso intelectual e científico é mais apurado. Com efeito, as teorias que identificam nos seres humanos o resultado do aprimoramento biológico, ao longo dos milênios, de organismos primitivos que povoaram inicialmente a Terra, são hoje amplamente difundidas, aceitas pela comunidade científica e confirmadas pelo Plano Espiritual.
3. As recentes descobertas da Antropologia e da Arqueologia não só têm confirmado essas teorias como fornecido argumentos em favor da tese do povoamento simultâneo de várias regiões do planeta, por meio de povos que, embora oriundos de uma única raça – a raça humana –, apresentavam característicos físicos distintos, o que explica sua origem diversificada e seu desenvolvimento independente.
4. A simbologia da narrativa bíblica reflete um fenômeno usual no processo de desenvolvimento e evolução dos orbes e dos Espíritos que os habitam. Os mundos progridem através do crescimento em moralidade e sabedoria dos seres que neles vivem. Quando um planeta atinge uma fase de culminância em sua transição evolutiva, os Espíritos que não acompanharam o progresso geral do orbe e se tornaram ali elementos de perturbação do bem-estar da coletividade são conduzidos a mundos menos adiantados, onde aplicarão sua inteligência e a intuição dos conhecimentos adquiridos em benefício do progresso daqueles que ali habitam.
5. Tais Espíritos expiarão, no contato com as difíceis condições de vida do seu novo ambiente e entre povos mais atrasados, as faltas passadas e o endurecimento voluntário, sofrendo o guante da dor que os impulsionará à renovação. Essas migrações entre os diversos mundos do Universo são periódicas e podem efetuar-se com os elementos de um povo ou de um planeta.

Os exilados de Capela exerceram na Terra um papel importante
6. No Gênesis, Moisés registra as reminiscências de um grupo de Espíritos, personificados em Adão e Eva, que migrou para a Terra, proveniente de um planeta do sistema orbital da estrela chamada Cabra ou Capela, pertencente à constelação do Cocheiro. Há milênios – informa Emmanuel em seu livro A Caminho da Luz – esse planeta capelino, que guarda muitas afinidades com a Terra, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá se encontravam dificultando a consolidação das penosas conquistas de um povo que, no geral, era imbuído de virtudes e fizera jus à concórdia, para a edificação dos seus elevados programas de trabalho.
7. As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então, localizar aquelas entidades rebeldes em nosso mundo, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração, ao mesmo tempo que impulsionariam o progresso intelectual dos seus irmãos intelectualmente inferiores.
8. Na dor do seu exílio e da separação de seus entes queridos, foram eles recebidos por Jesus, que, com suas amorosas advertências, despertou-lhes as esperanças de redenção no porvir e os convidou à cooperação fraterna para o aprimoramento dos povos primitivos que habitavam nosso planeta. A eles, Jesus prometeu a assistência cotidiana e sua vinda futura, para indicar-lhes o caminho que lhes possibilitaria o retorno ao paraíso perdido.
9. Com o auxílio daqueles Espíritos aflitos e endividados, que reencarnaram em diferentes regiões da Terra já habitadas pelos povos primitivos, as falanges de Jesus procederam ao aperfeiçoamento dos caracteres biológicos dos seres humanos que aqui reencarnariam e lançaram as bases do progresso e da civilização no planeta. Vivendo entre povos primitivos, ainda em situação de barbárie, os exilados de Capela sentiram-se degredados, conduzidos a ambiente rude, para expiar suas faltas; mas, intuitivamente, almejavam o retorno ao paraíso perdido, cuja lembrança na esfera da intuição propagou-se através das gerações e foi relatada, de forma alegórica, nas páginas bíblicas.
10. A figura de Adão deve ser compreendida, portanto, como símbolo da humanidade terrena. Sua desobediência às determinações divinas representa a infração das leis do bem, em que incorreram os homens, particularmente os exilados do sistema capelino, ao se deixarem dominar pelos instintos materiais. A árvore da ciência é uma alegoria relativa à possibilidade de o homem discernir entre o bem e o mal, através do progresso intelectual e do consequente desenvolvimento do seu livre-arbítrio, que acarreta a responsabilidade por seus atos.

Muitos exilados de Capela ainda continuam na Terra
11. O fruto da árvore da ciência, que floresce no meio do “jardim das delícias”, corresponde ao produto da evolução material e se constitui no objeto dos desejos materiais do homem. Comer o fruto é deixar-se vencer pelas sensações da matéria, em detrimento das conquistas espirituais que cumpre realizar.
12. A árvore da vida simboliza a vida espiritual, é referência às conquistas em moralidade e demais bens do Espírito, que o orbe capelino efetivara e de que os exilados não poderiam aproveitar, por se haverem desarmonizado com o ambiente espiritual daquele planeta.
13. A serpente simboliza, pelas suas formas e modo de locomoção, a sinuosidade dos maus conselhos que, contornando os obstáculos da consciência, conseguem atingir o ser, ao encontrar os resquícios da inferioridade no âmago do seu coração.
14. Desse modo, os ensinamentos espíritas relativos à chamada raça adâmica esclarecem o mito registrado no Gênesis e fornecem explicação racional para as reminiscências das promessas da vinda do Messias, encontradas em diversas comunidades terrenas.
15. Grande número dos Espíritos exilados só pôde retornar ao seu orbe de origem depois de muitas existências na Terra. Alguns, todavia, ainda se encontram por aqui, devido ao seu endurecimento no mal.

Respostas às questões propostas

1. Adão e Eva foram os primeiros seres humanos a habitar a Terra? 
Não. As recentes descobertas da Antropologia e da Arqueologia têm fornecido argumentos em favor da tese do povoamento simultâneo de várias regiões do planeta, por meio de povos que, embora oriundos de uma única raça – a raça humana –, apresentavam característicos físicos distintos, o que explica sua origem diversificada e seu desenvolvimento independente.
2. A migração de Espíritos entre os diferentes planetas constitui uma regra ou é uma exceção?
As migrações entre os diversos mundos do Universo são periódicas e podem efetuar-se com os elementos de um povo ou de um planeta.
3. Que ensina o Espiritismo acerca dos exilados de Capela?
Os chamados exilados de Capela são uma referência a um grupo de Espíritos, personificados em Adão e Eva, que migraram para a Terra, provenientes de um planeta do sistema orbital da estrela chamada Cabra ou Capela. Há milênios – informa Emmanuel em seu livro A Caminho da Luz – esse planeta capelino, que guarda muitas afinidades com a Terra, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá se encontravam dificultando a consolidação das penosas conquistas de um povo que, no geral, era imbuído de virtudes e fizera jus à concórdia, para a edificação dos seus elevados programas de trabalho. As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então, localizar aquelas entidades rebeldes em nosso planeta, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração, ao mesmo tempo que impulsionariam o progresso intelectual dos seus irmãos intelectualmente inferiores.
4. Qual é o significado, segundo o Espiritismo, da alegoria pertinente à árvore da ciência?
O fruto da árvore da ciência, que florescia no meio do “jardim das delícias”, corresponderia ao produto da evolução material e se constituiria no objeto dos desejos materiais do homem. Comer esse fruto equivaleria a deixar-se vencer pelas sensações da matéria, em detrimento das conquistas espirituais que nos cumpre realizar.
5. Os exilados de Capela já retornaram ao seu planeta de origem?
Em parte, sim. Alguns, todavia, ainda se encontram por aqui, devido ao seu endurecimento no mal.

Bibliografia:
A Gênese, de Allan Kardec, cap. 11, itens 38 a 49, e cap. 12, itens 2 a 26.
A Caminho da Luz, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, pág. 34.


Nota:
Eis os links que remetem aos 3 últimos textos:





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quarta-feira, 28 de março de 2018




Na subida cristã

Irmão X

Filipe, o velho pescador fiel ao Profeta Nazareno, meditando bastas vezes na grandeza do Evangelho, punha-se a monologar para dentro da própria alma.
A Boa Nova - dizia consigo mesmo -era indiscutivelmente um monte divino, alto demais, porém, considerando-se as vulgaridades da existência comum. O Mestre era, sem dúvida, o Embaixador do Céu. Entretanto, os princípios de que era portador mostravam-se transcendentes em demasia.
Como enfrentar as dificuldades e resolvê-las? Ele, que acompanhava o Senhor, passo a passo, atravessava obstáculos imensos, de modo a segui-lo com fidelidade e pureza. Momentos surgiam em que, de súbito, via esfaceladas as promessas de melhoria íntima que formulava a si próprio.
É quase impraticável a ascensão evangélica. Os ideais, as esperanças e objetivos do Salvador permaneciam excessivamente longínquos ao seu olhar... Se os óbices da jornada espiritual lhe estornavam sadios propósitos do coração, que não ocorreria aos homens inscientes da verdade e mais frágeis que ele mesmo?           
Em razão disso, de quando em quando interpelava o Amigo Celeste, desfechando-lhe indagações. Jesus, persuasivo e doce, esclarecia:
- Filipe, não te deixes subjugar por semelhantes pensamentos. É indispensável instituir padrões superiores com a revelação dos cimos, inspirando os viajores da vida e estimulando-os, quanto for necessário... Se não descerrarmos a beleza do píncaro, como educar o espírito que rasteja no pântano? Não menosprezes, impensadamente, a claridade que refulge, além...
- Mas, Senhor - obtemperava o companheiro sincero -, não será mais justo graduar as visões? O amor que pleiteamos é universal e infinito. A maioria das criaturas, porém, sofre estreiteza e incompreensão. Muitos homens chegam a odiar e perseguir como se praticassem excelentes virtudes. Filósofos existem que consomem a vida e o tempo entronizando os que sabem tiranizar. É razoável, portanto, diminuir a luz da revelação, para que se não ofusque o entendimento do povo. No transcurso do tempo, nossos continuadores se encarregariam de mais amplas informações...
O Cristo sorria, benevolente, e acrescentava:
- Se as ideias redentoras de nossos ensinamentos são focos brilhantes de cima, reconheçamos que a mente do mundo está perfeitamente habilitada a compreendê-las e materializá-las. Não é a coroa da montanha que perturba a planície.  E se obstáculos aparecem, impedindo-nos a subida, estas dificuldades pertencem a nós mesmos. Uma estrela beneficia sempre, convida ao raciocínio elevado; no entanto, jamais incomoda. Não maldigas, pois, a luz, porque todo impedimento na edificação do Reino Celeste está situado em nós mesmos.
O velho irmão penetrava o terreno das longas perquirições interiores e concluía, afirmando:
- Senhor, como eu desejava compreender claro tudo isto!
Silenciava Jesus na habitual meditação.
Certo dia, ambos se preparavam para alcançar os cimos do Hermon, em jornada comprida e laboriosa, quando o apóstolo, ainda em baixa altitude, se pôs a admirar, deslumbrado, os resplendores que fluíam da cordilheira.
Terminara o lençol verdoengo e florido.
Atacaram a marcha em carreiro íngreme. Agora, era a paisagem ressequida e nua.
Pequeninos seixos pontiagudos recheavam o caminho.
Não obstante subirem devagar, Filipe, de momento a momento, rogava pausa e, suarento e inquieto, sentava-se à margem, a fim de retirar pedras minúsculas que sorrateiras, lhe penetravam as sandálias. Gastava tempo e paciência para localizá-las entre os dedos feridos dos pés.
Dezenas de vezes pararam, de súbito, repetindo Filipe a operação de limpeza e, ao conquistarem as eminências da serra, banhados de sol, na prodigiosa visão da natureza em torno, o Mestre, que sempre se valia das observações diretas para fixar as lições, explicou-lhe brandamente:
- Como reconheces, Filipe, não foi a claridade do alto que nos dificultou a marcha e, sim, as pedrinhas modestas do chão.  O dia radioso nunca fez mal. Entretanto, muitas vezes, as questões pequeninas do mundo interrompem a viagem dos homens para Deus, Nosso Pai. Quase sempre, a fim de prosseguirmos na direção do dever elevado e soberano, nossa alma requisita a cooperação dos outros, tanto quanto os pés necessitam da sandália protetora nestes caminhos escabrosos... Toda dificuldade na ascensão reside nos problemas insignificantes da senda... Assim também, na caminhada humana, as questões mais ínfimas, se conduzidas pela imprudência, podem golpear duramente o coração. Observa o minuto de palestra, a opinião erradia, o gesto impensado... Podem converter-se em venenosas pedrinhas que cortam os pés, ameaçando-nos a estabilidade espiritual. Entendes, agora, a importância das bagatelas em nosso esforço diário?
O pescador Galileu meneou a cabeça, significativamente, e respondeu satisfeito:
- Sim, Mestre, agora compreendi.

Do livro Luz Acima, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


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terça-feira, 27 de março de 2018




O consultório sentimental

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

A chuva estava decidida e eu a observava através da janela da sala de espera de um consultório. Pelo menos por uns bons minutos aguardando veria aquela imagem: janela, chuva. Mas comecei a dividir a atenção entre a janela e chuva e um pai de primeira viagem, que aguardava segurando o seu pequenino embrulhado num cobertor bem quentinho.
O jovem homem estava com a esposa que acabara de ser chamada para a consulta. Nem me lembrei mais da janela. Fiquei encantada com aquele momento. Nunca havia presenciado tanto amor e ternura como os daquele cuidadoso pai olhando docemente para o seu menino no colo.
O pai o admirava tanto e talvez estivesse pensando:
“Como é lindo, filho meu. Vou amá-lo e o protegerei até ficar crescido e precisar de meu cuidado, e quando eu estiver bem velhinho, minhas preces é que o alcançarão e o protegerão, pois minhas pernas talvez não mais terão força, meus braços apenas, com dificuldade, poderão abraçá-lo, mas precisarei muito do seu abraço. Peço que os raios solares lhe proporcionem a vitamina necessária, que a lua o embale com o bom e protegido descanso e que seus sonhos sejam em cores e totalmente felizes. Filho, que se realize num trabalho e que ampare mais outras pessoas do que lhe traga apenas dinheiro, que tenha os valores abençoados de um bom homem e seja o mais nobre exemplo para os meus netos, que seja alma bondosa, forte, mas também doce, pois quem possui a doçura os beija-flores gostam de visitar. Ah, filho querido, como o amo e o respeito!”
E uma lágrima desceu devagar pelo rosto paterno até diminuir e cair de raspãozinho na face do amado bebê, e logo a mão protetora limpou delicadamente o rostinho daquela criatura.
− Pronto, meu bem. Podemos ir – a jovem mulher havia saído da consulta.
− Sim, meu amor – o rapaz levemente disfarçou a emoção.
A família foi para seu caminho.
E eu... ah, eu gastei os meus três últimos lencinhos e logo fui chamada.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/




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